quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando se cruza uma linha

Constantemente ouvimos falar de casos de atletas que são flagrados em exames de controle de doping, cuja presença de substâncias proibidas foi detectada em seu organismo.

Quando estes casos são detectados em competições internacionais, com atletas estrangeiros e em modalidades de grande retorno financeiro como o futebol, o tênis ou os ciclistas do pró tour estes casos já nos chocam. Eles nos fazem pensar sobre as compensações financeiras da vitória, superando os riscos de ser pego, sobre o caminho que o esporte de alto rendimento está seguindo, sobre se existe algum atleta de elite ainda limpo.

Entretanto, quando sabemos de um caso mais próximo, dentro do nosso esporte, com um atleta que conhecemos, contra quem já podemos ter disputado uma competição a questão se torna muito mais pessoal. Nos sentimos traídos, enganados, trapaceados. A questão do doping sai de uma perspectiva generalista abstrata, de fenômeno do esporte, e assume um caráter concreto. Isto nos faz refletir sobre os porquês deste fato, os motivos, as formas e todos os fatores que fizeram estes atletas se utilizarem de tais substâncias, na tentativa de encontrar alguma explicação que possa nos trazer alguma segurança dentro do contexto esportivo em que vivemos. Segurança de que os infratores serão pegos, segurança de que o esporte que praticamos é limpo e até a segurança de que posso competir limpo e vencer e de que não seremos um dia parte também deste processo.

Mas até por este caráter de repúdio e de busca de segurança, uma reflexão responsável é necessária para que não caiamos em armadilhas. Isto porque, assim como temos (nós como sociedade) a tendência a reverenciar nossos ídolos, dotando suas figuras de todas as virtudes e buscando absorve-las (as virtudes) de volta, no momento em que os assumimos como exemplo, também temos a tendência de atribuir aos “vilões”, todos os vícios da sociedade. Desta forma conquistamos a segurança de poder separar os indivíduos entre bons e maus, nos sentindo virtuosos por imitar os ídolos e projetando tudo o que não conseguimos aceitar como parte da realidade, como algo que está presente no meio de nós, em indivíduos que, por alguma falha maior ou menor, de princípio, caráter ou conduta, acabam por personificar este papel de vilão, ficando então indissociados do fato em si.

Um atleta que desrespeita uma regra “tabu” como o doping, passa a ser considerado não apenas um mau atleta, que desrespeitou uma regra, mas alguém sem caráter, dissimulado, um ser humano ruim.

Por isso precisamos jogar um pouco mais de luz sobre o uso de substâncias proibidas, ou doping, para que então possamos começar a compreender os reais motivos que levam um atleta, profissional e amador, a se utilizar de tais métodos, para que então possamos pensar em educação, controle e responsabilização.

Quando falamos em doping e atletas se dopando, precisamos pensar em diversos fatores: Existe algum perfil especial de atleta que se dopa? Quais os motivos que levam um atleta a se dopar? Existe mais de um motivo? Entre outros que vão nos responder os porquês e os como da situação.

Existem diversa discussões acerca dos perigos e ameaças do doping. Tanto do ponto de vista médico como do ponto de vista filosófico, quando se sai do senso comum de condenação, revolta e recusa em se discutir o assunto abertamente (ao meu ver, o grande motivo pelo qual avançamos muito pouco em termos de educação anti-doping), ainda não existe um consenso sobre perigos-benefícios e o conceito de aceitável-inaceitável, quando se discute sua liberação. Entretanto existe um consenso geral. De que uma vez que existe uma regra formal que proíbe o uso de métodos e substâncias específicas, o seu uso por parte de um atleta configura uma infração a esta regra, ofensa ao fair play e portanto trapaça.

Este é o princípio de qualquer regra, existe um código específico e a infração a esta regra, embora traga ganhos para o infrator, deverá receber uma punição adequada para que estes ganhos não compensem as perdas consequentes. Mas infelizmente como toda regra, muitas vezes os atletas testam os limites na busca por algum benefício, de não serem pegos, do ganho ser maior que a perda ou de simplesmente pensarem apenas no ganho ignorando as perdas. Isto acontece desde um jogador de linha que arrisca ser expulso ao defender com a mão um gol certo no futebol, até um atleta que se utiliza de um método proibido para estar em condições fisiológicas melhores que seus adversários correndo o risco de ser suspenso por dois anos. E esta consciência entre perdas e ganhos que precisamos avaliar.

Existem diferentes motivos que levam o atleta a se dopar e este motivos tem a ver com sua intenção, seu grau de conhecimento, seus recursos, seu ego, sua disciplina, seu fair play e sua força de caráter. Cada ponto atrairá ou impulsionará o indivíduo em direção a infração de uma forma específica, sendo causa e determinando o porquê deste comportamento. Por isso não podemos generalizar os casos e culpabilizar os atletas da mesma forma, embora a responsabilidade pelo uso e o fato em si devam ser tratados igualmente no momento da punição, uma vez que o teste julga a presença da substância e não a intenção do atleta. Nem sempre os atletas estão buscando o caminho mais fácil ou uma vantagem desleal, mas o resultado é o mesmo.

Da ingenuidade:
Embora muito alegada pelos atletas quando pegos, que afirmam não saber como o resultado positivo foi encontrado, culpando suplementos, chás, e medicamentos naturais, esta vertente é realmente muito pequena, mas precisa ser considerada. Ela ocorre principalmente em atletas mais simples, que não entendem de suplementação, de substâncias proibidas, de responsabilidades. São pessoas humildes, que seguem a risca tudo o que treinadores, médicos e nutricionistas, do alto de sua suposta autoridade, lhes prescrevem. Como atletas, muitas vezes eles tem consciência de que o doping é errado. Talvez se lhes fosse explicado que iriam tomar substâncias proibidas possivelmente se recusassem. Mas o que ocorre é diferente, normalmente as substâncias lhes são dadas alegando serem vitaminas, suplementos normais, sem risco e sem restrição. Através de sua ingenuidade são levados a se doparem e normalmente quando pegos são direta e unicamente responsabilizados e abandonados por aqueles que lhes fizeram a prescrição.

Da Irresponsabilidade:

O principal objetivo desta vertente é a de diferenciá-la da ingenuidade. Neste caso os atletas não são figuras humildes, não são influenciados por terceiros inescrupulosos. Eles simplesmente não se dão conta da responsabilidade que têm de manter seu corpo limpo. Tomam remédios sem prescrição, não se preocupam com a procedência de seus suplementos, desconhecem a lista de substâncias proibidas, não leem rótulos, acham que por serem naturais, certos produtos não serão considerados doping e acabam se expondo a riscos desnecessários durante sua carreira esportiva, muitas vezes sendo surpreendidos por resultados positivos. Neste caso a intenção do uso ainda não está presente, mas a irresponsabilidade já se encontra acima da ingenuidade.
Da sensação de inferioridade:

Nesta vertente a intenção já começa a aparecer, ainda não no sentido do levar vantagem ou de trapacear com convicção, mas o aleta já sabe exatamente o que está fazendo. Neste caso o atleta se dopa não por querer levar vantagem sobre os outros, mas ele acredita que ao se dopar está simplesmente diminuindo a diferença entre ele e os outros atletas. Esta vertente é bastante polêmica, pois é muito contestada por médicos e atletas. Nela se concentram os casos de atletas que se utilizam de substancias proibidas (autorizadas ou não por meio das isenções de uso terapêutico) por se considerarem física ou fisiologicamente inferiores aos atletas limpos. Atletas com bronquite, capacidade pulmonar reduzida, déficits hormonais e outras doenças são os mais comuns. Embora o esporte competitivo seja sobre diferenças físicas, técnicas, genéticas e de capacidades, estes atletas julgam que a compensação de suas deficiências é mais justa do que a compensação de outras deficiências de outros atletas em relação a eles.
Outro ponto desta vertente são os atletas que se convencem de que todos os atletas se utilizam do doping, de que ele atingiu todos os limites possíveis do ser humano em termos de dedicação, recursos e treinamento e que todos aqueles que ganham dele é porque estão dopados. Aí mora um grande perigo, pois é fácil dar um passo a frente e justificar o início do uso de uma substância ou método proibido dizendo que apenas está diminuindo a diferença, se dopando como todos para que a competição seja mais justa. Talvez este atleta seja o mais propenso a começar a se utilizar do doping, pois a sensação de injustiça prévia muitas vezes confunde e distorce o processo racional e a manutenção dos valores, o atleta vai sempre responsabilizar os outro pela sua conduta e assim se esquivar de sua própria auto condenação.

Da falta de opção:

Neste caso estão os atletas desesperados. Eles vivem do esporte, são atletas (no que diz respeito a constituição de sua identidade), pagam suas contas com a premiação e os patrocínios e dependem de uma convocação, de um índice ou de um resultado importante que julgam estar fora de seu alcance dentro das condições normais. O atleta sente sua vida ameaçada e enxerga no doping uma última oportunidade de conquistar aquilo que tanto sonhou. Ser pego é uma ameaça, mas não conseguir o resultado também o é. Em seu modo de pensar, estar limpo e não conquistar o objetivo de nada lhe valerá, pois irá ter de abandonar o esporte. Caso seja pego, terá, da mesma forma, que abandonar o esporte. Mas em sua lógica ele costuma ignorar todo o prejuízo da segunda opção e se concentra em uma terceira, a de conquistar o resultado e não ser pego. Para ele os fins justificarão os meios, e ele ainda pode garantir que só tomará para aquela competição, que depois as coisas ficarão mais tranquilas e ele irá parar. Mas não é isso que acontece e sempre que a corda apertar ele vai recorrer a esta saída. Normalmente esta situação ocorre com os atletas profissionais, cuja identidade e a vida dependem de sua prática e de suas vitórias. Mas com a cultura do imediatismo, da conquista e da necessidade de alcançar o resultado aqui e agora, muitas vezes vemos atletas amadores que buscam um título, um índice ou uma vaga em um torneio importante acabam se arriscando nesta “roleta russa”, que muitas vezes oferece ainda menos risco, pois muito raramente em alguma competição, mesmo em mundiais, os amadores são testados.

Da vantagem:

Por último chegamos ao conceito da vantagem pura. Aqui encontramos o atleta realmente inescrupuloso, que quer levar vantagem sobre seus adversários, que busca o caminho mais fácil, que muitas vezes nem tão mais fácil é, pois a substância permite ao atleta treinar mais horas e sofrer durante mais tempo. Este atleta sabe o que está fazendo e até espera que ninguém mais o faça, para que sua vantagem seja ainda maior. Ele busca a glória, a superação, o reconhecimento, a reverência. Seu ego e seu orgulho são inflados e suas motivações na maioria das vezes são extrínsecas: prêmios, medalhas, reconhecimento. Não existe inocência aqui e sim um a grande sensação de impunidade, de que nunca vai ser pego, de que seu esquema é melhor, de que ele é mais esperto que o sistema. E é justamente este orgulho que acaba criando falhas em seu método e fazendo com que ele seja pego. Muitas vezes frente a um resultado positivo alega ingenuidade, inocência e culpa a todo o sistema, entidades, adversários preferindo acreditar que foi vítima a assumir, não que infringiu uma regra, mas que seu sistema de infração não foi bom o suficiente.
Com certeza existem mais vertentes do que estas aqui apresentadas, e cada uma delas não ocorre de forma estanque. Em um caso de doping talvez possamos identificar um fator principal, mas ele nunca ocorre sozinho. Muitas vezes ele é fruto de um processo em que o atleta inicia por um motivo, em uma determinada situação, com uma responsabilidade específica e com o tempo o contexto vai se modificando e o atleta vai encontrando motivos e justificativas para continuar. E quando é pego e lhe perguntam, muitas vezes não consegue nem sequer justificar o porquê para si mesmo.

Mas pelo que podemos ver nestes diversos perfis, existe um fator em comum presente nos diferentes casos. Este fator é a busca por algum método ergogênico. Do mais inocente, ao mais inescrupuloso, todos entram nessa partindo de um princípio: A busca por algo que melhore sua performance, nas competições ou nos treinos. Nem sempre quem se utiliza de suplementos e outros métodos legais de treinamento e preparação será candidato ao uso de substâncias proibidas, mas quem se utiliza delas, com certeza passou por todos os métodos, substâncias e materiais legais antes de se arriscar no proibido. Pois doping exige conhecimento, teste, busca. E durante a busca os limites do que faz bem ou mal, do que ajuda ou não, do que é natural, justo ou aceitável vão ficando tênues se não estivermos firmes nos valores de justiça, fair play e caráter. Precisamos ter clareza do conceito de que existe uma regra e que a simples e mais branda infração desta já se constitui como infração. E toda a infração deve ser punida.

Por isso, enquanto não pararmos para discutir abertamente a questão, e não buscarmos compreender os motivos e as causas que levam diferentes atletas, de diferentes modalidades, em diferentes momentos a se doparem, não teremos a capacidade de desenvolver programas específicos de combate ao doping que possam convencer os atletas, responsáveis últimos pelo uso de qualquer substância, de que os valores éticos e o respeito as regras do e no esporte devem ser mantidos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vivendo o sonho

Encontrei essa coluna escrita por Bob Babbit na última página da revista inside triathlon. Me dei o direito de traduzi-la e colocar aqui no blog (depois de tanto tempo), pois trata do momento da tomada de decisão na vida de um atleta em se tornar profissional. Nas opções e decisões, muitas vezes difíceis, e no fato de se assumir a responsabilidade sobre as próprias escolhas e suas consequências.
Boa leitura

Ele estava embalado na carreira e nunca tivera dúvidas. Ele foi do colégio para a faculdade, onde se formou em comércio, depois se especializando em contabilidade. Em seu crescimento, a educação era tudo em sua casa, e ele deixou sua mãe e seu pai orgulhosos. “Na nossa casa foi sempre educação em primeiro, esporte depois”, ele dizia. “Praticar esportes era algo para o fim de semana”. Ele estava com 23 anos, tinha um bom emprego, possuía dois ternos e uma coleção de camisas e gravatas, lia as noticias financeiras diariamente enquanto ia de trem para o trabalho e recebia um belo pagamento toda quinta feira. Além disso, ele tinha uma ótima vista da cidade da janela do seu escritório.

E ele odiava cada segundo de cada dia.

“Eu estive no meu trabalho por 10 meses e olhava pela janela sonhando em pedalar, nadar e correr”, ele se lembra “Eu provavelmente não era um contador muito produtivo”.

Ele havia tido sucesso como triatleta amador, mas e se ele pudesse largar seu trabalho e viajar o mundo para competir como triatleta profissional?

Um certo dia ele foi até seu chefe e avisou que estava se demitindo “Meu chefe achou que eu tivesse outra oferta de trabalho, e riu quando eu disse que não, que estava saindo para me tornar um triatleta profissional.Ele achou isso hilário”

Mas como contar as notícias aos pais? Isso ia ser uma missão difícil. “Por duas semanas eu acordava pela manhã, vestia o terno e a gravata, e meu pai me deixava na estação de trem” ele se lembra. “Então eu descia na primeira parada, voltava para casa e gastava o dia com minha bicicleta.

Mas ele sabia que um dia ia ter que encarar a realidade. Quando ele finalmente sentou com seus pais para contar a notícia sua mãe o apoiou, mas seu pai permaneceu em silêncio. “Isso foi o pior”, ele diz. “Eu teria preferido vê-lo zangado e gritando comigo. Quando ele se calou eu disse, pai, não fique desapontado, fique bravo”.

Mas na verdade, seu pai estava apenas processando a informação. A resposta de seu pai foi algo de que ele se lembrará para sempre. “Ele disse ‘Filho, se é isso que você quer fazer, se você quer se tornar um atleta profissional... Então seja um atleta profissional. Não perca os próximos 10 anos de sua vida sendo estúpido. Faça do jeito certo. Se você se tornar o melhor que você pode ser,eu ficarei muito orgulhoso de você’”.

Ele comprou uma passagem de ida para a Europa, voou para Paris com $2700 em seu bolso e comprou uma revista de triathlon quando aterrissou. “Eu me hospedei em um desses hotéis baratos formula1 e competia três vezes a cada fim de semana. Eu iria competir até conseguir ou até que meu dinheiro acabasse”, ele se diverte.

Em Orange ele pagou adiantado por três noites e acabou ficando cinco. “A gerente do hotel ficava indo até o meu quarto para buscar o dinheiro para a quarta e quinta noites”, ele se lembra. “Eu acabei pulando a janela e fugindo do pagamento das duas últimas noites. Ela provavelmente procura até hoje por mim”.

O triathlon é um pouco diferente na Europa. Ele podia competir em um evento menor na sexta feira à noite e em um maior no sábado na mesma cidade, na França. Então ele podia pegar o trem noturno, evitando ter de pagar uma noite de hotel, chegar à Suíça pela manhã e então competir no domingo. ”Em um final de semana eu ganhei $1000 e me senti o homem mais rico do mundo, que eu nunca teria de trabalhar novamente”, ele diz. “Eu estava espantado e emocionado com tudo aquilo. Eu queria provar para meu pai e minha mãe que eu havia feito do jeito certo, que eu tinha tomado a decisão certa”.

Essa decisão o levou a vencer o Campeonato mundial de triathlon olímpico em 1997, Wildflower, Escape from Alcatraz, triathlon de Chicago, St. Croix, o Ironman da Austrália, o mundial de Ironman no Havaí em 2007 e outras incontáveis conquistas.

Os sonhos se tornam realidade?
Pergunte a Chris McCormack

segunda-feira, 15 de março de 2010

Para onde você deixa a sua cabeça te levar?

Muitas vezes, na pressa e na rotina dos treinamentos e competições, o atleta passa pelas conquistas e os fracassos sem tempo para avaliar os resultados de seus esforços e os motivos que foram determinantes para o resultado final alcançado.

Nestes momentos são comuns vitórias seguidas, que enchem os atletas de motivação para continuar treinando, de energia para vencer o cansaço e de confiança para enfrentar e vencer qualquer adversário. Nestes momentos o atleta se coloca inconscientemente em um estado de ânimo tão positivo que quase como por inércia os bons resultados tendem a se repetir cada vez mais. Parece que tudo dá certo para ele, a sorte está do seu lado, e os desafios parecem simples e fáceis.

Por outro lado também são comuns os períodos difíceis, onde as derrotas e os maus resultados se repetem. Tudo parece difícil, duro, inalcançável, as coisas dão errado e o atleta não consegue sair desta situação, parece preso em areia movediça, quanto mais luta para sair, mais se afunda. Neste momento os pensamentos negativos se estabelecem na consciência do atleta e falta-lhe motivação, energia e confiança para lutar pelos seus objetivos.

É óbvio que a primeira situação é muito melhor que a segunda, mas a falta de consciência durante qualquer uma destas situações faz das possibilidades de aprendizado e crescimento do atleta, igualmente limitadas em qualquer um dos cenários.

Desta forma é fundamental que possamos tomar consciência dos aspectos que influenciam nossos resultados e estar constantemente aprendendo tanto com as derrotas, quanto com as vitórias. Estes aspectos estão ligados a hábitos produtivos, escolhas e caminhos que buscamos a cada ação que realizamos em direção ao objetivo final. Na busca por bons resultados devemos estar constantemente positivos em um ciclo virtuoso de ações e pensamentos.

De maneira simplificada poderia levantar quatro aspectos inter-relacionados, que influenciam diretamente os desempenhos e resultados dos atletas em competição. É difícil ordenar sua importância, mas como meu trabalho atua mais diretamente com as questões cognitivas começo sempre com o pensamento.

É fundamental manter o pensamento positivo diante de todos os aspectos envolvidos no esporte. Confiar nas próprias capacidades, nos treinos, na evolução, encarar os desafios como oportunidades, chances para crescer, se superar. Estes aspectos nos garantirão uma perspectiva positiva em relação à atividade e em relação à própria vida, diminuindo o peso das dificuldades e o tamanho dos obstáculos. Este pensamento positivo nos leva ao segundo aspecto, as atitudes. Pensamentos positivos aumentam a probabilidade de apresentarmos atitudes positivas.

Atitudes positivas são aquelas ligadas aos valores de produtividade e crescimento. No esporte, diretamente, são as atitudes que ajudam o atleta a evoluir. São o trabalho duro, o esforço, a dedicação, disciplina, forçar os limites, persistir, e todos os aspectos necessários na formação de um grande atleta. Estas atitudes, quando realizadas de forma intencional e com empenho irão influenciar o próximo aspecto envolvido na performance, o resultado. Atitudes positivas aumentam a probabilidade de alcançarmos resultados positivos.

Aqui entramos na situação que descrevi no início do texto, quando entramos em uma seqüência de resultados positivos começamos, quase de forma inconsciente, a entrar em um estado positivo tal que tudo parece ser mais fácil e tanto os obstáculos começam a parecer menores, quanto os resultados aparecem de forma mais natural. E quando falo em resultados não me limito aos resultados de competição, mas também aos mais simples resultados conquistados através das atitudes positivas. E como o resultado é a finalidade da prática esportiva, os resultados positivos nos conduzem ao último aspecto, as emoções positivas. Os resultados positivos, principalmente quando são resultado de todo o processo descrito aqui, produzem as emoções positivas.

E afinal são as emoções positivas que nos dão tanto prazer em continuar trabalhando em busca de nossos objetivos, são aquelas sensações de dever cumprido, de capacidade, de realização de alegria. São os sentimentos que reforçam a autoconfiança, a auto-estima do atleta e que em última instância estão relacionados ao conceito de FELICIDADE.

Então fechamos o ciclo virtuoso quando os sentimentos positivos influenciam os pensamentos do atleta. Um atleta confiante, com grande auto-estima, feliz e se sentindo capaz de conquistar seus objetivos mantém naturalmente os pensamentos mais positivos diante de qualquer situação.

Por outro lado, este aspecto se repete da mesma forma no sentido inverso quando não cuidamos com cuidado de todos estes aspectos. Quando começamos a pensar de forma negativa somos levados a atitudes negativas, que causam resultados negativos, nos trazem emoções negativas e nos afundam cada vez mais nos pensamentos de incapacidade, inferioridade e medo diante dos desafios.

Por isso é tão importante pensarmos onde estamos deixando nossa cabeça nos levar, se temos controle sobre o que pensamos, se cultivamos atitudes produtivas, se estamos buscando a felicidade de forma correta e fazendo com que nossas conquistas nos impulsionem cada vez mais a frente. Afinal o desempenho é resultado de todo um processo objetivo e específico e não resultado do acaso, e quanto maior o controle sobre o processo, maior a probabilidade de sucesso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Persistência

Não costumo colocar muitos textos de fora no blog, ou quando coloco normalmente o faço de forma comentada, ilustrando algumas das minhas idéias e opiniões.
Este texto eu encontrei no blog da equipe de natação do clube Paineiras do Morumby, gerenciado pelo head coach Wlad, que procura sempre trazer informações, textos e idéias novas para seus atletas, de forma dedicada e persistente.
O texto em si eu já achei muito interessante, mas decidi colocar aqui quando, em uma conversa com uma amiga que havia acabado de ser cortada de uma seleção, mostrei o texto e ela depois me disse que ele a ajudou a deixar de lado a frustração e a voltar a pensar nos treinos.
A tradução é do próprio Wlad.

Persistência

Por Angie Wester-Kreig
Atleta Olímpica em 1992 e Medalhista Panamericana


Eu comecei a competir com sete anos, o que 'e quase normal para todos os nadadores de elite. Vinte anos e quatro Seletivas Olímpicas depois, eu ainda continuava treinando. Eu era a mais velha mulher no time de natação americano na Olimpíada de 1992, e também a mais velha "caloura" em qualquer Olimpíada já realizada. Minha primeira Seletiva Olímpica foi em 1980. Alguém poderia olhar minha situação e dizer que ninguém na equipe tem mais seletivas nas costas dos que eu, mas também ninguém teve mais desapontamentos nelas do que eu. Não existem atalhos na natação. Nos todos já ouvimos isto antes. E, não existem formulas milagrosas de sucesso também. Todos nos temos nossa própria formula de sucesso que ao final das contas nos ira levar a vitoria. Isto porem em algumas vezes levara um pouco mais de tempo para chegar aonde você quer: ao objetivo. Eu era uma das participantes da Seletiva Olímpica Americana em 1980, então em 1984 eu já era uma das finalistas da Seletiva, porem não cheguei a me classificar para a Equipe Americana. Em 1988, ao contrario de 1980, eu sequer cheguei as finais. Então, em 1992 finalmente eu consegui fazer parte da Equipe Americana para a Olimpíada. Isto foi 12 anos depois do que eu esperava para uma Seleção. Doze Anos!!! Sim, isto 'e um bocado de experiência, mas também 'e um bocado de desapontamentos e desesperanças. Minha carreira inteira eu me senti frustrada porque eu sempre me classificava para os Nacionais porem nunca ficava entre os primeiros. Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe. E se existisse somente uma coisa que estes DOZE anos me ensinaram: nunca NUNCA NUNCA NUNCA DESISTA! Freqüentemente 'e dito que todos numa Seletiva Olímpica espera de algum modo, fazer parte da Equipe Olímpica. Não importa quão longe isto possa estar para as pessoas de fora, se em seu coração você não acredita que você tem uma chance, você então nunca lá poderá estar. Eu pensei que tinha uma chance em 1980. Eu pensei que eu tinha uma chance em 1984, e em 1988 e em 1992. A coisa que fez minha formula para o sucesso: PERSISTENCIA.
A Seletiva Olímpica de 1992 foi uma fantasia para mim. Nadei três provas para o melhor tempo de toda minha vida, provas que eu já havia nadado mais de uma centena de vezes em toda minha carreira. Pessoas falam sobre cansaço, e sobre como aprenderam a odiar a natação. Mas eu amo nadar. E eu curto muito isto, mesmo hoje. Nos dias de hoje nos estamos vendo vários atletas conseguirem resultados após anos de piscina, Mat Biondi, Pablo Morales, Killion, Jorgeson, Barrowman (todos excepcionais atletas americanos, no Brasil temos Rogério Romero como maior exemplo), e todos eles melhorando suas marcas. Isto significa que não acabamos aos 22 anos. Existe uma vida toda lá fora após o colégio, e se você achar a “atmosfera" correta pode ser uma maravilhosa combinação para uma gratificante experiência. Eu poderia ter abandonado as piscinas em 1988. E muitas pessoas poderiam, e disseram, ter dito para eu fazer isto. Eu tinha 23 anos então, e eu era velha para uma nadadora. Mas logo após poucas semanas depois de minha decepção nas Seletivas eu estava de volta as piscinas novamente, não porque eu tinha que fazer aquilo, ou porque alguém tinha me dito para fazer isso, eu estava de volta, pois eu gostava daquilo e tinha alegrias lá. Logicamente não era a todo o momento alegre treinar. Mesmo quando eu estava super empolgado na época da Faculdade, eu sentia como que deveria nadar e conseguir uma bolsa de estudo, como forma de agradecimento aos meus pais por todos os anos de apoio que eles tinham me dado. Eu era a única nadadora que marcava pontos para minha equipe (San Jose State) no NCAA (Principal Campeonato Absoluto Americano). Eu aprendi a confiar em mim mesma. E como única integrante da minha equipe em tais campeonatos, eu coloquei também muita pressão em mim. Natação 'e um esporte individual e nos freqüentemente colocamos mais pressão em nos mesmos do que deveríamos. Com a perspectiva de 20 anos de natação, um emprego em tempo integral, casada, eu aprendi como ter alegrias com a natação. Meu técnico na Faculdade ajudou-me a colocar as coisas em perspectivas mostrando-me o quanto a escola e o trabalho são na vida, e encorajando-me a não levar as coisas tão a serio. Competindo contra Mary T Meagher (ate então a recordista nos 200 Borboleta) também me ajudou a perceber que todos que competiam comigo eram somente seres humanos. Vendo os nadadores de elite relaxando antes das provas no balizamento, antes de suas principais provas, também me ajudaram a relaxar. Eu aprendi muito com isto. Eu comecei a olhar desse jeito: “Eu sou sortuda por estar aqui. E se eu somente relaxar e tentar ser o melhor que eu posso isso será legal". Finalmente, olhando a grande estrada que eu passei ate as Olimpíadas, eu vejo mais claramente agora o que eu sabia então. SUCESSO VEM DO CORACAO. A equipe de San Jose não 'e uma potência, e eu fiz a maior parte de todo meu treinamento totalmente sozinha. Quando eu terminei a faculdade, eu era obrigada a treinar aonde eu podia arrumar uma piscina. As vezes treinando sozinha, as vezes correndo próximo de Stanford, as vezes treinando com equipes master, eu fiz o melhor que eu podia com o que eu tinha em mãos. Somando-se a este ritmo de treino forte e agitado, um emprego em período integral não fazia as coisas mais fáceis, ao contrario. Mas eu sabia que se eu continuasse tentando e trabalhando e acreditando em mim, eu poderia conseguir. Escola, namorados (e maridos), vida em família, tudo coloca pressão, mas se você continua e se mantém firme em seus ideais o tempo suficiente, você ira achar sua própria formula de sucesso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma luz sobre o fracasso (ou como atingir os objetivos estabelecidos)

É óbvio que sempre queremos falar das vitórias e das conquistas. É isso que sempre buscamos, é a razão de todo o esforço e dedicação a que nos submetemos quando nos envolvemos em uma competição esportiva.

No pólo oposto, a simples menção da palavra fracasso nos causa resistência, antipatia e até medo ou receio. Mas infelizmente o fracasso faz parte do esporte (e da vida), tanto quanto o sucesso e o fato de ignorarmos esta condição primordial não nos torna menos sujeitos a ele. Pelo contrário, quanto mais preparados para enfrentar a possibilidade de fracassar estivermos, mais capazes de evitá-lo seremos e mais eficientes em transformar os possíveis fracassos em sucessos futuros iremos nos tornar.
Não digo que devemos estar constantemente preocupados com o que pode dar errado, tornando o medo de perder um controlador de nossos comportamentos mais forte que o desejo de ganhar. Mas considerar que o fracasso faz parte de qualquer tentativa, nos ajuda a planejar melhor nossos objetivos na tentativa de evitá-lo. Aceitá-lo, quando ele ocorre, nos permite avaliar a situação toda de uma forma mais eficiente, para que possamos identificar os fatores que realmente foram os determinantes desta situação e corrigi-los em uma próxima tentativa.
O FRACASSO
Não podemos confundir fracasso com derrota. O fracasso pode estar presente na performance do campeão, que pode ter falhado em melhorar seu tempo ou em conquistar um índice, e o sucesso pode ocorrer para um atleta que finalmente conseguiu completar uma prova, independente de seu tempo ou posição. Em qualquer vitória podemos identificar pequenos fracassos e em qualquer derrota podemos encontrar pequenos sucessos.
O Sucesso e o Fracasso estão, portanto, muito mais relacionados aos objetivos estabelecidos do que ao resultado final concreto. Atingir o objetivo é o sucesso, não atingi-lo seria o fracasso. Mas como já disse antes não existem sucessos ou fracassos absolutos, mas precisamos admiti-los se quisermos evoluir.
Diferentes motivos podem nos levar ao fracasso, e deveremos estar atentos a cada um deles quando nos preparamos para qualquer competição.
O primeiro deles ocorre quando estabelecemos os objetivos, sem considerar os aspectos de realidade, simplesmente pautados em nossos desejos e não em nossas capacidades reais. Três fatores podem influenciar esta situação. O primeiro é o fato de nos basearmos apenas em nossos desejos. Os desejos e sonhos são fundamentais para qualquer conquista, mas eles não podem depender apenas do querer, precisam se basear em uma correta avaliação das condições pessoais e das capacidades já demonstradas em situações anteriores.
A busca pelos objetivos também pressupõe trabalho. E a capacidade, desejo e iniciativa para realizar o que é preciso também precisam ser considerados no estabelecimento dos objetivos. O fracasso neste ponto ocorrerá quando a preparação ou treinamento realizado não for adequado ou suficiente para atingir o nível de performance desejado ou esperado.
Uma auto-avaliação sincera e realista também é fundamental para evitar fracassos. Conhecer as capacidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas individuais, assim como seus limites e possibilidades de enfrentar os desafios determinados, permitem uma avaliação mais correta e um estabelecimento de metas mais realistas.
Outra forma perigosa de se fracassar é a de basear os objetivos definidos em referenciais externos, fora do controle pessoal do indivíduo. O foco principal tem de ser sempre em aspectos que estão sob o nosso controle. O treinamento, a capacidade física (força, velocidade...), o potencial, todos estes aspectos dependentes do indivíduo e não do meio ou do adversário. Não somos capazes de prever como estará o tempo (fator determinante em eventos outdoor) ou as condições de competição. Não sabemos como estarão os nossos adversários, como eles estão preparados. É evidente que em uma competição temos que considerar nossos adversários, uma vez que queremos e temos como objetivo superá-los. Mas enquanto o foco for apenas o outro, deixaremos de identificar o que precisamos evoluir, nossos pontos fortes e os fracos e seremos incapazes de inclusive enxergar os pequenos sucessos em uma situação de fracasso.
Também não podemos deixar de identificar como fator determinante do fracasso o imprevisto. Fatores incontroláveis e os controláveis de que nos esquecemos podem sempre influenciar o resultado final de uma competição. Em algumas mais, em outra menos. Quanto mais dependente a modalidade for de fatores externos e fora de nosso controle, maior a probabilidade de que eles façam alguma diferença no final. Cabe ao atleta, diante dessa situação, aprender a lidar e enfrentar o imprevisto, se preparar para evitá-lo e desenvolver estratégias para que possa se recuperar ou reestruturar suas metas, diante do aparecimento destes fatores.
Sucesso e fracasso são apenas palavras, termos utilizados para descrever situações e contingências. São resultado de planejamentos e estabelecimentos de metas adequados ou inadequados para alcançar aquilo a que nos propomos, em uma determinada situação, em um determinado momento. Não carregam em si, a priori, juízo de valor sobre a capacidade do sujeito. Acertar, errar e se adaptar faz parte do jogo, e aprender com cada situação é fundamental para o crescimento e a evolução de qualquer atleta ou pessoa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Características do jogador

Outro dia estava lendo alguns artigos e me deparei, no site de uma equipe da NBA (os Minessota Timberwolves), com um texto escrito por um dos drafters da equipe. Os drafters são aqueles caras responsáveis pela detecção de talentos para aequipe. Eles viajam o mundo inteiro, inúmeras ligas nacionais e internacionais, desde as high schools americanas, as universidades até as ligas latinas européias africanas e por aí vai. Eles estão sempreatrás de jogadores que possam se tornar grandes dentro da equipe,seja a curto, médio ou longo prazo.
O que achei interessante no texto é que ele dá uma descrição das características que ele procura nos jogadores. Ele começa dizendo que as características físicas são apenas o começo de um processo muito mais amplo. è lógico que ninguém vai trazer um jogador de 1,70m e 69kg pra jogar na NBA só porque joga bem, mas existem milhares dejogadores de 2,10m e 100kg espalhados pelo mundo, sendo que muito poucos deles realmente jogam ou até dão certo na liga.
Interessante também é que, abstraíndo-se as habilidades específicas do jogo de basquete, estas características são gerais a atletas de qualquer esporte. E este cara não está apenas diferenciando melhores ou piores jogadores, ele está procurando os melhores atletas do mundo na modalidade para jogarem na principal liga profissional de basquete, onde a diferença entre um bom jogador e um excelente pode valer títulos e milhões de dólares em retorno.
Ele começa listando as características físicas (estas específicas do basquete):
Altura, peso e força, velocidade e rapidez, envergadura, coordenação, tempo de reação, resistência(endurance) e histórico médico.
Características mentais específicas:
Senso de quadra: Ele entende como jogar o jogo? segundo o autor estaé uma área que está diminuindo muito, existe dificuldade em encontrar um jogador que sabe como jogar, e não apenas realiza jogadas ou o que lhe é instruído.
Habilidade em aprender: existe muito a aprender no jogo, como defesa, ataque, planos de jogo, tendências dos adversários, e o jogador não deve apenas ter a habilidade de aprender, mas também precisa ter o desejo de aprender.
Atitude de equipe: O jogador é altruísta? Ele põe o time em primeiro lugar? Ele acredita nos valores da equipe? Ele está disposto a se sacrificar pelos outros? respeita seus companheiros de equipe?
Treinabilidade: O jogador tem o desejo de ser treinado?Ele quer melhorar? Respeita os técnicos?
Competitividade: Ele quer realmente vencer? Ele tem orgulho?
Liderança: Nem todos os jogadores serão líderes, mas esta é uma característica valiosa para se ter. é difícil vencer sem bons líderes.
Trabalho ético e intensidade: Ele está disposto a se dedicar ao máximo para melhorar? Ele joga forte? Ele joga com energia/intensidade?
Responsabilidade: Ele é pontual? Ele se dedica a aprender as jogadas e as estratégias de jogo?
Pressão: Ele consegue suportar situações de pressão?
Habilidades de convívio: Quando você está em um time, você passa longo tempo junto com a equipe em viagens ou em casa. O jogador precisa ser capaz de se relacionar bem com as pessoas. Isto é importante tamnto em quadra como também em comunidade.
Amar o jogo (esta é muito interessante): Existem poucos bons jogadores que não amam o jogo. existemjogadores de muito talento que aprendem a se tornar profissionais e fazem o seu trabalho muito bem, mas eles nunca irão alcançar todo o seu potencial se eles não amam o jogo. A NBA é um trabalho, mas acima de tudo é um jogo. se você não se diverte jogando, você não será bom.
Esta é uma questão muito interessante quando falamos de atletas profissionais e seu envolvimento com o esporte. O esporte pode ser uma profissão, mas o caráteremocional envolvido torna esta, uma atividade diferente. E este amor pelo jogo descrito no texto é fundamental.
Neste momento o autor diferencia três tipos de atletas: O atleta de basquete(athlete), o talento no basquete(talent) e o jogador de basquete(player).
Atleta de basquete: Este é um cara que tem as características físicas para jogar na NBA. Nós não temos problemas em encontrar este tipo de jogadores. Eles estão em qualquer parque nas grandes cidades dos EUA. Poucos deles chegam a se tornar profissionais.
Talento no basquete: Estes caras não apenas tem as características físicas para jogar na NBA, mas também as habilidades para jogar. Estes jogadores podem ser encontrados em ligas em todo o mundo e em parques. Muitos desses jogadores chegam a NBA, mas poucos fazem carreiras longas.
Jogador de basquete: Este é um atleta que tem as características físicas, as habilidades, o senso de quadra, o caráter, os valores de equipe e amam o jogo. Estes jogadores têm carreiras longas, se tornam astros, mas também podem simplesmente fazer seu papel no time. Eles entendem para que servem suas habilidades e sabem como utilizá-las para ajudar o time. estes jogadores são difíceis de encontrar, mas são o que os drafters procuram.
Você pode encontrar Jogadores de Basquete na universidades, nas escolas e até nas ligas de veteranos. Se a pessoa tem as características físicas para competir na liga em que estão jogando, eles podem se tornar "jogadores", se desenvolverem suas habilidades, aprenderem como jogar e tiverem atitudes de equipe.
E finaliza:
" Não é difícil avaliar as características físicas ou técnicas do jogador, mas é difícil avaliar os corações e as mentes dos jogadores. Portanto o mais importante é ter a atitude certa, a inteligência, o caráter e a capacidade de se desenvolver"
Bob Babcock

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cinco Perguntas

No início do ano, bastante se fala sobre o estabelecimento de metas e objetivos. Sonhos, desejos, promessas de ano novo, é o momento de pensarmos no que queremos para o nosso ano pessoal, profissional e competitivo.
É inegável a importância de organizarmos um bom estabelecimento de metas para que possamos nos manter motivados durante todo o ano e para não nos perdermos no caminho. Metas de curto, médio e longo prazos, específicas, mensuráveis, possíveis e importantes para quem as busca, são fundamentais para que se trabalhe em função de algo real e não de suposições tão vagas como melhorar, evoluir ou crescer. Melhorar quanto, como , onde, evoluir em que direção, em quanto tempo, crescer porque, de que forma, com qual objetivo. Estas devem ser perguntas a serem respondidas.
Entretanto um fator é fundamental a ser considerado e vem antes de todas estas perguntas. Quais são os valores deste atleta? O que ele considera importante? O que ele busca alcançar ou manter?
Muitas vezes consideramos óbvias estas respostas e, como atletas até achamos inadequado responder algo diferente de ser campeão, vencer, ser o melhor. Mas é possível ir mais fundo. Será que uma posição ou uma conquista é o que realmente nos faz atletas? Certa vez em um filme ouvi a seguinte frase: "se você é um ninguém sem uma medalha, não se tornará alguém com uma". Esta frase resume bem esta idéia, de buscar algo mais, não substituindo um bom resultado por "ser uma pessoa melhor" como muitos pensam, ou consideram uma coisa OU outra, mas se preocupar com um crescimento maior que transformará a vitória em uma conquista consequente e não uma condição necessária para ser alguém.
Partindo destes conceitos certa vez li uma reportagem que tratava justamente do estabelecimento de metas de início de ano, mas que trazia algo diferente. Considerava a reflexão dos valores pessoais como condição inicial para se pensar estas metas.
O artigo então partia de cinco perguntas básicas que trabalho até hoje com meus pacientes:
1- O que é um atleta?
2- Por que eu gosto de ser um atleta?
3- Qual a coisa mais importante que eu conquisto na minha atividade física/ esportiva?
4- Existe algo realmente importante que eu quero conquistar com minha atividade?
5- Por que eu gostaria de trabalhar para conquistar isto?
São perguntas bastante simples e inicialmente parecem muito semelhantes. Mas é nas pequenas diferenças que o exercício de reflexão vai se construindo. Peço aos atletas que respondam uma pergunta por vez, de preferência uma por dia, concentrados, sem pressa e depois leiam sua resposta e escrevam e acrescentem o que quiserem e quantas vezes quiserem.
Com este exercício, além de descobrir e perceber coisas que nos pareciam muito longes, difíceis ou nem considerávamos, estabelecemos uma base de valores que determinará todo o nosso exercício de estabelecimento de metas. Será à partir dele que conseguiremos enxergar as contradições entre os reais valores pessoais e os objetivos detreminados por expectativas externas, entre o que é realização e o que é simples vaidade. Então poderemos trabalhar com metas mais reais, relevantes e realizadoras para cada atleta.
Cada objetivo tem de estar realmente ligado a você e ao seu projeto de vida, e a hierarquia destes valores e objetivos é o que vai determinar os caminhos e desvios a serem tomados, facilitando as decisões e proporcionando a realização pessoal, a elevação da autoestima e o aumento da confiança.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um pouco mais longe

Inspirado no post anterior sobre a dor enfrentada pelos atletas durante provas de endurance e um outro post que li sobre o controle de ritmo, determinado na tentativa de quebra de recordes em corridasde fundo, comecei a refletir um pouco sobre a influência do estado mental dos atletas na capacidade de manter os níveis de performance no limite durante períodos mais longos de prova.Segundo este artigo, que analisava os recordes em corridas de fundo, de 5 mil metros a maratonas, todos eles eram obtidos com um começo rápido, uma meio estável e um final ainda mais forte que o início. O trabalho então se perguntava como isso era possível, uma vez que fisiologicamente as reservas de energia dos atletas deveriam estar no fim e sua temperatura muito elevada. Isso considerando as amostras e o momento, atletas profissionais em quebras de recordes, ou seja, nenhum deles estava se poupando para acelerar apenas no final.Durante as considerações finais levantava-se a questão do controle do cérebro sobre estas reservas restantes. No modelo proposto o cérebre calcularia constantemente os níveis de energia disponível, a capacidade e velocidade de reposição, o ritmo atual e o tempo estimado até o final da prova. Através deste complexo e constante cálculo o cérebro envia mensagens para aumentar ou diminuir o ritmo necessário para atingir o objetivo final ao mesmo tempo em que tenta manter a integridade do corpo. Com a aproximação do final da prova estes cálculos vão ficando mais precisos e o cérebro "autoriza" então o gasto das últimas reservas disponíveis, até aquelas destinadas a simplesmente manter o indivíduo em pé.A questão psicológica dos atletas se torna então conseguir "dialogar" constantemente com o corpo e o cérebro para que estas reservas não sejam liberadas apenas no final, mas constantemente, em um ritmo mais forte, durante toda a duração da prova. Este "diálogo", entretanto, tem um preço duro a se pagar. Suportar a dor necessária durante mais tempo.Já discuti anteriormente os aspectos motivacionais de concentração durante o esforço e o de controle do foco de atenção, todos eles fundamentais para o desempenho máximo dos atletas.Mas outro aspecto que temos de considerar é o da confiança do atleta em suas próprias capacidades de suportar este esforço, ou se manter neste desempenho.Tanto nosso corpo como nossa mente sofrem uma exigência muito grande quando estamos buscando um nível alto de performance. A questão física e fisiológica é simples de ser percebida, etá na dor, no cansaço e no sofrimento, mas e a questão mental?Esta se encontra na ansiedade, no estresse pré, durante e pós competição, no desejo de sucesso e no medo do fracasso, no cansaço mental de horas de concentração, de diálogo interno e de necessidade de ser bem sucedido.Nosso corpo e nossa mente buscam então, sempre atingir e se manter em uma zona de conforto, cabe a nós constantemente nos forçarmos a ultrapassá-la.E são nossas experiências anteriores que nos darão a confiança que precisamos para tentar ir um pouco mais rápido, um pouco mais forte, um pouco mais pesado. Nossos treinos de sucesso, a confiança no técnico e no seu trabalho, as competições bem sucedidas e nossas referências internas e externas. Esta confiança tem de vir de aspectos reais, desenvolvidos através dos treinos e da superação constante. Não é apenas por que queremos ir mais rápido, ou porque nosso adversário está na frente que aguentaremos mais.Quando confiamos em nosso potencial e conhecemos nossos limites, e também a falta deles, começamos a aprender a tentar um pouco mais, ousar, desafiar a nós mesmos. E neste momento o "diálogo" eu-cérebro fica mais fácil, as tentações de diminuir o ritmo são menos frequentes, e nos autorizamos a "gastar mais", para alcançar os objetivos ambiciosos que nos propomos diariamente.