segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Características do jogador

Outro dia estava lendo alguns artigos e me deparei, no site de uma equipe da NBA (os Minessota Timberwolves), com um texto escrito por um dos drafters da equipe. Os drafters são aqueles caras responsáveis pela detecção de talentos para aequipe. Eles viajam o mundo inteiro, inúmeras ligas nacionais e internacionais, desde as high schools americanas, as universidades até as ligas latinas européias africanas e por aí vai. Eles estão sempreatrás de jogadores que possam se tornar grandes dentro da equipe,seja a curto, médio ou longo prazo.
O que achei interessante no texto é que ele dá uma descrição das características que ele procura nos jogadores. Ele começa dizendo que as características físicas são apenas o começo de um processo muito mais amplo. è lógico que ninguém vai trazer um jogador de 1,70m e 69kg pra jogar na NBA só porque joga bem, mas existem milhares dejogadores de 2,10m e 100kg espalhados pelo mundo, sendo que muito poucos deles realmente jogam ou até dão certo na liga.
Interessante também é que, abstraíndo-se as habilidades específicas do jogo de basquete, estas características são gerais a atletas de qualquer esporte. E este cara não está apenas diferenciando melhores ou piores jogadores, ele está procurando os melhores atletas do mundo na modalidade para jogarem na principal liga profissional de basquete, onde a diferença entre um bom jogador e um excelente pode valer títulos e milhões de dólares em retorno.
Ele começa listando as características físicas (estas específicas do basquete):
Altura, peso e força, velocidade e rapidez, envergadura, coordenação, tempo de reação, resistência(endurance) e histórico médico.
Características mentais específicas:
Senso de quadra: Ele entende como jogar o jogo? segundo o autor estaé uma área que está diminuindo muito, existe dificuldade em encontrar um jogador que sabe como jogar, e não apenas realiza jogadas ou o que lhe é instruído.
Habilidade em aprender: existe muito a aprender no jogo, como defesa, ataque, planos de jogo, tendências dos adversários, e o jogador não deve apenas ter a habilidade de aprender, mas também precisa ter o desejo de aprender.
Atitude de equipe: O jogador é altruísta? Ele põe o time em primeiro lugar? Ele acredita nos valores da equipe? Ele está disposto a se sacrificar pelos outros? respeita seus companheiros de equipe?
Treinabilidade: O jogador tem o desejo de ser treinado?Ele quer melhorar? Respeita os técnicos?
Competitividade: Ele quer realmente vencer? Ele tem orgulho?
Liderança: Nem todos os jogadores serão líderes, mas esta é uma característica valiosa para se ter. é difícil vencer sem bons líderes.
Trabalho ético e intensidade: Ele está disposto a se dedicar ao máximo para melhorar? Ele joga forte? Ele joga com energia/intensidade?
Responsabilidade: Ele é pontual? Ele se dedica a aprender as jogadas e as estratégias de jogo?
Pressão: Ele consegue suportar situações de pressão?
Habilidades de convívio: Quando você está em um time, você passa longo tempo junto com a equipe em viagens ou em casa. O jogador precisa ser capaz de se relacionar bem com as pessoas. Isto é importante tamnto em quadra como também em comunidade.
Amar o jogo (esta é muito interessante): Existem poucos bons jogadores que não amam o jogo. existemjogadores de muito talento que aprendem a se tornar profissionais e fazem o seu trabalho muito bem, mas eles nunca irão alcançar todo o seu potencial se eles não amam o jogo. A NBA é um trabalho, mas acima de tudo é um jogo. se você não se diverte jogando, você não será bom.
Esta é uma questão muito interessante quando falamos de atletas profissionais e seu envolvimento com o esporte. O esporte pode ser uma profissão, mas o caráteremocional envolvido torna esta, uma atividade diferente. E este amor pelo jogo descrito no texto é fundamental.
Neste momento o autor diferencia três tipos de atletas: O atleta de basquete(athlete), o talento no basquete(talent) e o jogador de basquete(player).
Atleta de basquete: Este é um cara que tem as características físicas para jogar na NBA. Nós não temos problemas em encontrar este tipo de jogadores. Eles estão em qualquer parque nas grandes cidades dos EUA. Poucos deles chegam a se tornar profissionais.
Talento no basquete: Estes caras não apenas tem as características físicas para jogar na NBA, mas também as habilidades para jogar. Estes jogadores podem ser encontrados em ligas em todo o mundo e em parques. Muitos desses jogadores chegam a NBA, mas poucos fazem carreiras longas.
Jogador de basquete: Este é um atleta que tem as características físicas, as habilidades, o senso de quadra, o caráter, os valores de equipe e amam o jogo. Estes jogadores têm carreiras longas, se tornam astros, mas também podem simplesmente fazer seu papel no time. Eles entendem para que servem suas habilidades e sabem como utilizá-las para ajudar o time. estes jogadores são difíceis de encontrar, mas são o que os drafters procuram.
Você pode encontrar Jogadores de Basquete na universidades, nas escolas e até nas ligas de veteranos. Se a pessoa tem as características físicas para competir na liga em que estão jogando, eles podem se tornar "jogadores", se desenvolverem suas habilidades, aprenderem como jogar e tiverem atitudes de equipe.
E finaliza:
" Não é difícil avaliar as características físicas ou técnicas do jogador, mas é difícil avaliar os corações e as mentes dos jogadores. Portanto o mais importante é ter a atitude certa, a inteligência, o caráter e a capacidade de se desenvolver"
Bob Babcock

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cinco Perguntas

No início do ano, bastante se fala sobre o estabelecimento de metas e objetivos. Sonhos, desejos, promessas de ano novo, é o momento de pensarmos no que queremos para o nosso ano pessoal, profissional e competitivo.
É inegável a importância de organizarmos um bom estabelecimento de metas para que possamos nos manter motivados durante todo o ano e para não nos perdermos no caminho. Metas de curto, médio e longo prazos, específicas, mensuráveis, possíveis e importantes para quem as busca, são fundamentais para que se trabalhe em função de algo real e não de suposições tão vagas como melhorar, evoluir ou crescer. Melhorar quanto, como , onde, evoluir em que direção, em quanto tempo, crescer porque, de que forma, com qual objetivo. Estas devem ser perguntas a serem respondidas.
Entretanto um fator é fundamental a ser considerado e vem antes de todas estas perguntas. Quais são os valores deste atleta? O que ele considera importante? O que ele busca alcançar ou manter?
Muitas vezes consideramos óbvias estas respostas e, como atletas até achamos inadequado responder algo diferente de ser campeão, vencer, ser o melhor. Mas é possível ir mais fundo. Será que uma posição ou uma conquista é o que realmente nos faz atletas? Certa vez em um filme ouvi a seguinte frase: "se você é um ninguém sem uma medalha, não se tornará alguém com uma". Esta frase resume bem esta idéia, de buscar algo mais, não substituindo um bom resultado por "ser uma pessoa melhor" como muitos pensam, ou consideram uma coisa OU outra, mas se preocupar com um crescimento maior que transformará a vitória em uma conquista consequente e não uma condição necessária para ser alguém.
Partindo destes conceitos certa vez li uma reportagem que tratava justamente do estabelecimento de metas de início de ano, mas que trazia algo diferente. Considerava a reflexão dos valores pessoais como condição inicial para se pensar estas metas.
O artigo então partia de cinco perguntas básicas que trabalho até hoje com meus pacientes:
1- O que é um atleta?
2- Por que eu gosto de ser um atleta?
3- Qual a coisa mais importante que eu conquisto na minha atividade física/ esportiva?
4- Existe algo realmente importante que eu quero conquistar com minha atividade?
5- Por que eu gostaria de trabalhar para conquistar isto?
São perguntas bastante simples e inicialmente parecem muito semelhantes. Mas é nas pequenas diferenças que o exercício de reflexão vai se construindo. Peço aos atletas que respondam uma pergunta por vez, de preferência uma por dia, concentrados, sem pressa e depois leiam sua resposta e escrevam e acrescentem o que quiserem e quantas vezes quiserem.
Com este exercício, além de descobrir e perceber coisas que nos pareciam muito longes, difíceis ou nem considerávamos, estabelecemos uma base de valores que determinará todo o nosso exercício de estabelecimento de metas. Será à partir dele que conseguiremos enxergar as contradições entre os reais valores pessoais e os objetivos detreminados por expectativas externas, entre o que é realização e o que é simples vaidade. Então poderemos trabalhar com metas mais reais, relevantes e realizadoras para cada atleta.
Cada objetivo tem de estar realmente ligado a você e ao seu projeto de vida, e a hierarquia destes valores e objetivos é o que vai determinar os caminhos e desvios a serem tomados, facilitando as decisões e proporcionando a realização pessoal, a elevação da autoestima e o aumento da confiança.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um pouco mais longe

Inspirado no post anterior sobre a dor enfrentada pelos atletas durante provas de endurance e um outro post que li sobre o controle de ritmo, determinado na tentativa de quebra de recordes em corridasde fundo, comecei a refletir um pouco sobre a influência do estado mental dos atletas na capacidade de manter os níveis de performance no limite durante períodos mais longos de prova.Segundo este artigo, que analisava os recordes em corridas de fundo, de 5 mil metros a maratonas, todos eles eram obtidos com um começo rápido, uma meio estável e um final ainda mais forte que o início. O trabalho então se perguntava como isso era possível, uma vez que fisiologicamente as reservas de energia dos atletas deveriam estar no fim e sua temperatura muito elevada. Isso considerando as amostras e o momento, atletas profissionais em quebras de recordes, ou seja, nenhum deles estava se poupando para acelerar apenas no final.Durante as considerações finais levantava-se a questão do controle do cérebro sobre estas reservas restantes. No modelo proposto o cérebre calcularia constantemente os níveis de energia disponível, a capacidade e velocidade de reposição, o ritmo atual e o tempo estimado até o final da prova. Através deste complexo e constante cálculo o cérebro envia mensagens para aumentar ou diminuir o ritmo necessário para atingir o objetivo final ao mesmo tempo em que tenta manter a integridade do corpo. Com a aproximação do final da prova estes cálculos vão ficando mais precisos e o cérebro "autoriza" então o gasto das últimas reservas disponíveis, até aquelas destinadas a simplesmente manter o indivíduo em pé.A questão psicológica dos atletas se torna então conseguir "dialogar" constantemente com o corpo e o cérebro para que estas reservas não sejam liberadas apenas no final, mas constantemente, em um ritmo mais forte, durante toda a duração da prova. Este "diálogo", entretanto, tem um preço duro a se pagar. Suportar a dor necessária durante mais tempo.Já discuti anteriormente os aspectos motivacionais de concentração durante o esforço e o de controle do foco de atenção, todos eles fundamentais para o desempenho máximo dos atletas.Mas outro aspecto que temos de considerar é o da confiança do atleta em suas próprias capacidades de suportar este esforço, ou se manter neste desempenho.Tanto nosso corpo como nossa mente sofrem uma exigência muito grande quando estamos buscando um nível alto de performance. A questão física e fisiológica é simples de ser percebida, etá na dor, no cansaço e no sofrimento, mas e a questão mental?Esta se encontra na ansiedade, no estresse pré, durante e pós competição, no desejo de sucesso e no medo do fracasso, no cansaço mental de horas de concentração, de diálogo interno e de necessidade de ser bem sucedido.Nosso corpo e nossa mente buscam então, sempre atingir e se manter em uma zona de conforto, cabe a nós constantemente nos forçarmos a ultrapassá-la.E são nossas experiências anteriores que nos darão a confiança que precisamos para tentar ir um pouco mais rápido, um pouco mais forte, um pouco mais pesado. Nossos treinos de sucesso, a confiança no técnico e no seu trabalho, as competições bem sucedidas e nossas referências internas e externas. Esta confiança tem de vir de aspectos reais, desenvolvidos através dos treinos e da superação constante. Não é apenas por que queremos ir mais rápido, ou porque nosso adversário está na frente que aguentaremos mais.Quando confiamos em nosso potencial e conhecemos nossos limites, e também a falta deles, começamos a aprender a tentar um pouco mais, ousar, desafiar a nós mesmos. E neste momento o "diálogo" eu-cérebro fica mais fácil, as tentações de diminuir o ritmo são menos frequentes, e nos autorizamos a "gastar mais", para alcançar os objetivos ambiciosos que nos propomos diariamente.