quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um pouco mais longe

Inspirado no post anterior sobre a dor enfrentada pelos atletas durante provas de endurance e um outro post que li sobre o controle de ritmo, determinado na tentativa de quebra de recordes em corridasde fundo, comecei a refletir um pouco sobre a influência do estado mental dos atletas na capacidade de manter os níveis de performance no limite durante períodos mais longos de prova.Segundo este artigo, que analisava os recordes em corridas de fundo, de 5 mil metros a maratonas, todos eles eram obtidos com um começo rápido, uma meio estável e um final ainda mais forte que o início. O trabalho então se perguntava como isso era possível, uma vez que fisiologicamente as reservas de energia dos atletas deveriam estar no fim e sua temperatura muito elevada. Isso considerando as amostras e o momento, atletas profissionais em quebras de recordes, ou seja, nenhum deles estava se poupando para acelerar apenas no final.Durante as considerações finais levantava-se a questão do controle do cérebro sobre estas reservas restantes. No modelo proposto o cérebre calcularia constantemente os níveis de energia disponível, a capacidade e velocidade de reposição, o ritmo atual e o tempo estimado até o final da prova. Através deste complexo e constante cálculo o cérebro envia mensagens para aumentar ou diminuir o ritmo necessário para atingir o objetivo final ao mesmo tempo em que tenta manter a integridade do corpo. Com a aproximação do final da prova estes cálculos vão ficando mais precisos e o cérebro "autoriza" então o gasto das últimas reservas disponíveis, até aquelas destinadas a simplesmente manter o indivíduo em pé.A questão psicológica dos atletas se torna então conseguir "dialogar" constantemente com o corpo e o cérebro para que estas reservas não sejam liberadas apenas no final, mas constantemente, em um ritmo mais forte, durante toda a duração da prova. Este "diálogo", entretanto, tem um preço duro a se pagar. Suportar a dor necessária durante mais tempo.Já discuti anteriormente os aspectos motivacionais de concentração durante o esforço e o de controle do foco de atenção, todos eles fundamentais para o desempenho máximo dos atletas.Mas outro aspecto que temos de considerar é o da confiança do atleta em suas próprias capacidades de suportar este esforço, ou se manter neste desempenho.Tanto nosso corpo como nossa mente sofrem uma exigência muito grande quando estamos buscando um nível alto de performance. A questão física e fisiológica é simples de ser percebida, etá na dor, no cansaço e no sofrimento, mas e a questão mental?Esta se encontra na ansiedade, no estresse pré, durante e pós competição, no desejo de sucesso e no medo do fracasso, no cansaço mental de horas de concentração, de diálogo interno e de necessidade de ser bem sucedido.Nosso corpo e nossa mente buscam então, sempre atingir e se manter em uma zona de conforto, cabe a nós constantemente nos forçarmos a ultrapassá-la.E são nossas experiências anteriores que nos darão a confiança que precisamos para tentar ir um pouco mais rápido, um pouco mais forte, um pouco mais pesado. Nossos treinos de sucesso, a confiança no técnico e no seu trabalho, as competições bem sucedidas e nossas referências internas e externas. Esta confiança tem de vir de aspectos reais, desenvolvidos através dos treinos e da superação constante. Não é apenas por que queremos ir mais rápido, ou porque nosso adversário está na frente que aguentaremos mais.Quando confiamos em nosso potencial e conhecemos nossos limites, e também a falta deles, começamos a aprender a tentar um pouco mais, ousar, desafiar a nós mesmos. E neste momento o "diálogo" eu-cérebro fica mais fácil, as tentações de diminuir o ritmo são menos frequentes, e nos autorizamos a "gastar mais", para alcançar os objetivos ambiciosos que nos propomos diariamente.

3 comentários:

  1. É tudo cabeça! Do treino às competições! Ao menos é assim que acredito que as coisas sejam! Ou ao menos uso como desculpa para justificar os grandes feitos humanos, seja no esporte ou em qualquer outra área! Aliás, os mais novos modelos estudados para entender a fadiga e os limites do ser humano indicam que a fadiga é muito mais mental que bioquímica ou mecânica! Como você mesmo ressaltou: o que explicaria um sprint de 400m ao final de uma prova de 10000m se estamos totalmente estressados ou com quase nenhum estoque de energia? E numa maratona? E os IM's que tem se decicido em seus últimos segundos?
    Se valer a sugestão, acesse e divirta-se:
    http://www.sportsscientists.com/2009/10/ross-speaks-fatigue-and-brain.html - resumo interessante

    http://www.sportsscientists.com/2008/01/fatigue-examined.html - uma série sobre fadiga que vale ser lida por atletas, técnicos e qualquer dos envolvidos ou interessados nos limites humanos

    E olha que provavelmente ainda estamos engatinhando no tema, afinal, os modelos de pesquisa, mesmo os dessas pesquisas recentíssimas em termos de ciência, ainda são muito controlados e pressupõem causa e efeito. O que, no mundo real, onde (parafraseando um professor meu) as variáveis incontroláveis variam incontrolavelmente, é praticamente impossível replicar o que encontramos no laboratório.

    Bela e interessante reflexão, abraços, Marcos

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  2. Se eu puder continuar explorando o tema, com licença. Divirta-se com um pouco mais do mesmo (foi uma agradável coincidência receber esse post hoje): http://chuckiev.blogspot.com/2010/01/art-truth-behind-science.html
    Explica os vencedores e desmistifica toda a ciência de um jeito simples e prático, algo raro hoje em dia!
    Abraços, Marcos

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  3. Depois de uns meses parado, voltou com chave de ouro! Boas postagens
    Abraços,
    Tiago Duarte

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