É óbvio que sempre queremos falar das vitórias e das conquistas. É isso que sempre buscamos, é a razão de todo o esforço e dedicação a que nos submetemos quando nos envolvemos em uma competição esportiva.
No pólo oposto, a simples menção da palavra fracasso nos causa resistência, antipatia e até medo ou receio. Mas infelizmente o fracasso faz parte do esporte (e da vida), tanto quanto o sucesso e o fato de ignorarmos esta condição primordial não nos torna menos sujeitos a ele. Pelo contrário, quanto mais preparados para enfrentar a possibilidade de fracassar estivermos, mais capazes de evitá-lo seremos e mais eficientes em transformar os possíveis fracassos em sucessos futuros iremos nos tornar.
Não digo que devemos estar constantemente preocupados com o que pode dar errado, tornando o medo de perder um controlador de nossos comportamentos mais forte que o desejo de ganhar. Mas considerar que o fracasso faz parte de qualquer tentativa, nos ajuda a planejar melhor nossos objetivos na tentativa de evitá-lo. Aceitá-lo, quando ele ocorre, nos permite avaliar a situação toda de uma forma mais eficiente, para que possamos identificar os fatores que realmente foram os determinantes desta situação e corrigi-los em uma próxima tentativa.
O FRACASSO
Não podemos confundir fracasso com derrota. O fracasso pode estar presente na performance do campeão, que pode ter falhado em melhorar seu tempo ou em conquistar um índice, e o sucesso pode ocorrer para um atleta que finalmente conseguiu completar uma prova, independente de seu tempo ou posição. Em qualquer vitória podemos identificar pequenos fracassos e em qualquer derrota podemos encontrar pequenos sucessos.
O Sucesso e o Fracasso estão, portanto, muito mais relacionados aos objetivos estabelecidos do que ao resultado final concreto. Atingir o objetivo é o sucesso, não atingi-lo seria o fracasso. Mas como já disse antes não existem sucessos ou fracassos absolutos, mas precisamos admiti-los se quisermos evoluir.
Diferentes motivos podem nos levar ao fracasso, e deveremos estar atentos a cada um deles quando nos preparamos para qualquer competição.
O primeiro deles ocorre quando estabelecemos os objetivos, sem considerar os aspectos de realidade, simplesmente pautados em nossos desejos e não em nossas capacidades reais. Três fatores podem influenciar esta situação. O primeiro é o fato de nos basearmos apenas em nossos desejos. Os desejos e sonhos são fundamentais para qualquer conquista, mas eles não podem depender apenas do querer, precisam se basear em uma correta avaliação das condições pessoais e das capacidades já demonstradas em situações anteriores.
A busca pelos objetivos também pressupõe trabalho. E a capacidade, desejo e iniciativa para realizar o que é preciso também precisam ser considerados no estabelecimento dos objetivos. O fracasso neste ponto ocorrerá quando a preparação ou treinamento realizado não for adequado ou suficiente para atingir o nível de performance desejado ou esperado.
Uma auto-avaliação sincera e realista também é fundamental para evitar fracassos. Conhecer as capacidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas individuais, assim como seus limites e possibilidades de enfrentar os desafios determinados, permitem uma avaliação mais correta e um estabelecimento de metas mais realistas.
Outra forma perigosa de se fracassar é a de basear os objetivos definidos em referenciais externos, fora do controle pessoal do indivíduo. O foco principal tem de ser sempre em aspectos que estão sob o nosso controle. O treinamento, a capacidade física (força, velocidade...), o potencial, todos estes aspectos dependentes do indivíduo e não do meio ou do adversário. Não somos capazes de prever como estará o tempo (fator determinante em eventos outdoor) ou as condições de competição. Não sabemos como estarão os nossos adversários, como eles estão preparados. É evidente que em uma competição temos que considerar nossos adversários, uma vez que queremos e temos como objetivo superá-los. Mas enquanto o foco for apenas o outro, deixaremos de identificar o que precisamos evoluir, nossos pontos fortes e os fracos e seremos incapazes de inclusive enxergar os pequenos sucessos em uma situação de fracasso.
Também não podemos deixar de identificar como fator determinante do fracasso o imprevisto. Fatores incontroláveis e os controláveis de que nos esquecemos podem sempre influenciar o resultado final de uma competição. Em algumas mais, em outra menos. Quanto mais dependente a modalidade for de fatores externos e fora de nosso controle, maior a probabilidade de que eles façam alguma diferença no final. Cabe ao atleta, diante dessa situação, aprender a lidar e enfrentar o imprevisto, se preparar para evitá-lo e desenvolver estratégias para que possa se recuperar ou reestruturar suas metas, diante do aparecimento destes fatores.
Sucesso e fracasso são apenas palavras, termos utilizados para descrever situações e contingências. São resultado de planejamentos e estabelecimentos de metas adequados ou inadequados para alcançar aquilo a que nos propomos, em uma determinada situação, em um determinado momento. Não carregam em si, a priori, juízo de valor sobre a capacidade do sujeito. Acertar, errar e se adaptar faz parte do jogo, e aprender com cada situação é fundamental para o crescimento e a evolução de qualquer atleta ou pessoa.
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