terça-feira, 12 de junho de 2012

Para onde você deixa a sua cabeça te levar?

Muitas vezes, na pressa e na rotina dos treinamentos e competições, o atleta passa pelas conquistas e os fracassos sem tempo para avaliar os resultados de seus esforços e os motivos que foram determinantes para o resultado final alcançado. Existe sempre o próximo treino, a próxima prova e as avaliações são normalmente apenas instantâneas e simples. Ou o resultado foi bom, ou foi ruim.

Nestes momentos são comuns vitórias seguidas, que enchem os atletas de motivação para continuar treinando, de energia para vencer o cansaço e de confiança para enfrentar e vencer qualquer adversário. Nestes momentos o atleta se coloca inconscientemente em um estado de ânimo tão positivo que quase como por inércia os bons resultados tendem a se repetir cada vez mais. Parece que tudo dá certo para ele, a sorte está do seu lado, e os desafios parecem simples e fáceis.

Por outro lado também são comuns os períodos difíceis, onde as derrotas e os maus resultados se repetem. Tudo parece difícil, duro, inalcançável, as coisas dão errado e o atleta não consegue sair desta situação, parece preso em areia movediça, quanto mais luta para sair, mais se afunda. Neste momento os pensamentos negativos se estabelecem na consciência do atleta e falta-lhe motivação, energia e confiança para lutar pelos seus objetivos.



É óbvio que a primeira situação é muito melhor que a segunda, mas a falta de consciência durante qualquer uma destas situações faz as possibilidades de aprendizado e crescimento do atleta, igualmente limitadas em qualquer um dos cenários.

Desta forma é fundamental que possamos tomar consciência dos aspectos que influenciam nossos resultados e estar constantemente aprendendo tanto com as derrotas, quanto com as vitórias. Estes aspectos estão ligados a hábitos produtivos, escolhas e caminhos que buscamos a cada ação que realizamos em direção ao objetivo final. Na busca por bons resultados devemos estar constantemente positivos em um ciclo virtuoso de ações e pensamentos.

Normalmente falamos da importância de aprender com os erros, mas quantas vezes realmente paramos após um fracasso e realmente procuramos refletir sobre suas reais causas, sem criar desculpas para os outros ou para nós mesmos, colocando a culpa no equipamento, na condição da prova, no treino, na alimentação ou em qualquer outra condição externa?

Além disso normalmente há uma limitação em se aprender apenas com os erros. Apenas depois de um fracasso é que o atleta vai tentar ver o que deu errado, nos momentos de sucesso ele apenas comemora e retoma sua rotina. Mas que momento melhor para aprender do que com os acertos?

Vamos dizer que existem 100 maneiras diferente de realizar uma atividade. Concentrado nos erros e no que não fazer o atleta poderá cometer 99 erros até aprender a forma correta de realiza-la. Quando ele se concentra no que fazer e nas coisas que deram certo este aprendizado se dá de forma muito mais rápida. Além disso, o atleta começa a perceber quais os fatores que realmente influenciam sua performance final, e que se repetem em todas as situações de sucesso. Dessa forma ele passa a controlar melhor seu desempenho, com a capacidade de cultivar hábitos e comportamentos produtivos e potencializá-los através de suas ações conscientes.



De maneira simplificada poderia levantar quatro aspectos inter-relacionados, que influenciam diretamente os desempenhos e resultados dos atletas em competição. É difícil ordenar sua importância, mas como meu trabalho atua mais diretamente com as questões cognitivas começo sempre com o PENSAMENTO.

É fundamental manter o pensamento positivo diante de todos os aspectos envolvidos no esporte. Confiar nas próprias capacidades, nos treinos, na evolução, encarar os desafios como oportunidades, como chances para crescer e se superar. Estes aspectos nos garantirão uma perspectiva positiva em relação à atividade e em relação à própria vida, diminuindo o peso das dificuldades e o tamanho dos obstáculos.

Este pensamento positivo nos leva ao segundo aspecto, as ATITUDES. Pensamentos positivos aumentam a probabilidade de apresentarmos atitudes positivas.  Atitudes positivas são aquelas ligadas aos valores de produtividade e crescimento. No esporte, diretamente, são as atitudes que ajudam o atleta a evoluir. É o trabalho duro, o esforço, a dedicação, disciplina, forçar os limites, persistir, e todos os aspectos necessários na formação de um grande atleta. Estas atitudes, quando realizadas de forma intencional e com empenho irão influenciar o próximo aspecto envolvido na performance, o RESULTADO. Atitudes positivas aumentam a probabilidade de alcançarmos resultados positivos.

Aqui entramos na situação que descrevi no início do texto, quando entramos em uma seqüência de resultados positivos começamos, quase de forma inconsciente, a entrar em um estado positivo tal que tudo parece ser mais fácil e tanto os obstáculos começam a parecer menores, quanto os resultados aparecem de forma mais natural. E quando falo em resultados não me limito aos resultados de competição, mas também aos mais simples resultados conquistados através das atitudes positivas. E como o resultado é a finalidade da prática esportiva, os resultados positivos nos conduzem ao último aspecto, as EMOÇÕES positivas. Os resultados positivos, principalmente quando são resultado de todo o processo descrito aqui, produzem as emoções positivas.



E afinal são as emoções positivas que nos dão tanto prazer em continuar trabalhando em busca de nossos objetivos, são aquelas sensações de dever cumprido, de capacidade, de realização de alegria. São os sentimentos que reforçam a autoconfiança, a auto-estima do atleta e que em última instância estão relacionados ao conceito de FELICIDADE.

Então fechamos o ciclo virtuoso quando os sentimentos positivos influenciam os pensamentos do atleta. Um atleta confiante, com grande auto-estima, feliz e se sentindo capaz de conquistar seus objetivos, mantém naturalmente os pensamentos mais positivos diante de qualquer situação.

Por outro lado, este aspecto se repete da mesma forma no sentido inverso quando não cuidamos com cuidado de todos estes aspectos. Quando começamos a pensar de forma negativa somos levados a atitudes negativas, que causam resultados negativos, nos trazem emoções negativas e nos afundam cada vez mais nos pensamentos de incapacidade, inferioridade e medo diante dos desafios.

O sentido deste ciclo pode ser influenciado por qualquer um dos aspectos levantados, em qualquer momento, por isso a atenção a eles é tão importante. Um resultado muito bom pode tirar o atleta imediatamente de uma situação ruim, assim como uma prova alvo malsucedida pode arrastá-lo para baixo. Da mesma forma atletas em boas fases de vida, treinando em equipes motivadas acolhedoras e apoiadoras, ou com boas relações familiares e sentimentais tendem a apresentar melhores estados e performances. Cada aspecto da vida e do treino deve ser feito com dedicação e cuidado e cada problema tratado com a seriedade e a atenção devida.

Por isso é tão importante pensarmos onde estamos deixando nossa cabeça nos levar. Se temos controle sobre o que pensamos, se cultivamos atitudes produtivas, se estamos buscando a felicidade de forma correta e fazendo com que nossas conquistas nos impulsionem cada vez mais a frente. Afinal o desempenho é resultado de todo um processo objetivo e específico e não resultado do acaso, e quanto maior o controle sobre o processo, maior a probabilidade de sucesso. Podemos escolher nos tornarmos conscientes de nossas ações, ou não, mas de qualquer forma seremos responsáveis por seus resultados. Cabe-nos então a escolha de compreender e controlar os aspectos envolvidos para que não nos tornemos apenas reféns da sorte, ou do azar.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Chrissie Wellington, atleta do ano

Este é um texto transcrito, encontrado no site The Science of Sport: www.sportsscientists.com, que por sinal tem o link aqui no blog.
Ele é, em primeiro lugar, uma discussão sobre a escolha de Chrissie Wellington para o prêmio de esportista do ano. Mas o mais interessante do artigo é que ele não apenas elogia a performance. Ele mostra através de uma análise científica porque suas performances foram superiores a qualquer outra mulher atleta, mesmo quando comparada a outras modalidades.
Aí que vem a segunda e interessante parte do texto. Nela, o autor faz uma comparação extensa sobre as marcas de homens e mulheres em esportes de endurance e demonstra como Chrissie diminuiu a defasagem que existia no triathlon entre as performances de homens e mulheres, quando comparadas a outras modalidades de endurance.
É uma leitura muito interessante, de aspectos que poucas vezes paramos para analisar com este cuidado. E uma boa e polêmica fonte de discussão quando comparamos o nível do esporte masculino e feminino.
Wednesday, December 22, 2010
Sportswoman of 2010: Chrissie Wellington

Chrissie Wellington: Moving Ironman triathlon forward
and some interesting male-female comparisons of where she lies in history



I almost withheld this particular award. Let me explain. My thinking is that in order to win our award as a sports PERSON of the year, that athlete must transcend their sport, they must rewrite history within their own sport. It's relatively easy to pick the best woman performer in each sport - track and field, you go with Blanka Vlasic; for tennis, it's either Serena Williams or Caroline Wozniacki; for football, Marta of Brazil.

But to be an overall sports person of the year, you can't just win against your rivals, you need to dominate them, move your sport forward a generation, change its history, and become "mainstream". You can't just be the best in your sport, you have to be one of the best in history A few years ago, for example, it might have been Annika Sorenstam, and then Lorena Ochoa, who dominated golf so completely that it moved women's golf up a notch. Tennis players like Steffi Graf, Martina Navratilova did the same for their sport a few generations ago, and Paula Radcliffe (as we'll see below) and Yelena Isinbayeva took women's running and pole vault forward, respectively. On the men's side, names like Federer, Woods, Nadal, Phelps, Bolt come to mind as athletes who have been so dominant and impressive that they are recognized not merely as tennis players, golfers or swimmers, but as sportspeople.

But women's sport is relatively bare at the moment. We've spoken about track and field already, how difficult it is for women to stand out in history, when confronted with a doping legacy that makes setting records almost impossible. Tennis is in a peculiar state, with no one woman dominating, the world number one ranking resembling a carousel over the last three years. Ochoa and Sorenstam's retirements have left a void yet to be filled in golf.

But then fortunately for me, one of you (thanks Gus) reminded me of Chrissie Wellington over on our Facebook page. I guiltily confess to having something of a "blind-spot" for Ironman distance triathlon, because we see so little of it on our TV over here in SA. Particularly Kona, which is not shown at all on SA television. However, Wellington's is a name that has shot to prominence in the last few years, as a result of her Kona exploits (among others). 2010 is an anomaly - she didn't even start in Kona this year, withdrawing on race day. However, that low moment was bookended by some astonishing performances, including a new Ironman event record to wrap up a dominant 2010.

And so Chrissie Wellington is a deserving winner of this award, which is as much an award for 2010 as it is a "lifetime (so far) achievement award". What's more, she provides a wonderful discussion of human performance and men vs women, and has clearly moved women's ultra-triathlon forward.

Here's why.


Wellington's records - the greatest ever, on the way

Ironman triathlon looked somewhat different before Wellington's instant impact back in Kona in 2007. Having qualified for the Hawaii World Championships by winning the Ironman Korea event. She finished 7th overall in that race, something which was to become a regular occurrence in her Ironman career. In Kona, her impact was instant - a win in 9:08:45, including a sub-3 hour marathon. That was the second fastest run time in the event's history, and one of the fastest overall times in many years - only Natascha Badmann's 9:07:54 in 2002 had been quicker in the preceding ten years.

2008 and 2009 brought more of the same, and this time included outright records. There was the fastest run ever in Kona in 2008 (2:57:44), the fastest ever Ironman distance performance in 2009 (an 8:31:59 clocking in a non Ironman event), and a new Kona record in 2009 - 8:54:02, beating the record of Kona legend Paula Newby-Fraser (though second placed Mirinda Carfrae did break Wellington's run record for the course).

Then came 2010. In July this year, she bettered her own Ironman distance record, this time with an 8:19:13 performance to finish 7th overall in Roth, Germany. This included records in both the bike leg (4:36:33) and the run leg (2:48:54), in what was possibly her most spectacular performance to date.

Kona came and went with a DNS as a result of illness, but the training did not go to waste, as Wellington then broke the record for an Ironman event, in the Ironman Arizona race, clocking 8:36:13. That race was, in her words, "her Kona", and she ended the year with the definitive statement that she is the best Ironman triathlete in the world today, perhaps ever, with a career that may just surpass that of Newby Fraser. All told, she has six sub-9 hour performances, a record, and remains undefeated over the Ironman distance.

She has also been the catalyst for a new generation of female triathletes - already, Wellington's run record in Kona was broken by Mirinda Carfrae in second place, who then won the Kona event in Wellington's absence earlier this year. Carfrae's winning time of 8:58:36 puts her within sight of Newby Fraser's previous record, which had stood relatively unchallenged until 2009, and the battle between those two should provide for great entertainment (and profile for the sport) in the years to come.

Challenging the men - where is Wellington in the male vs female distance spectrum?

Wellington's exploits produce the obvious comment that "she's almost beating all the men". I received a few emails discussing this and it's a really interesting question to try to answer: Is Wellington unique among female distance/endurance athletes, someone with a real chance of matching the best men? It's largely an irrelevant question, and Wellington's performances shouldn't really be compared to men's performances. But whenever the gap is that narrow, one is almost compelled to ask it, and from a performance and physiological analysis point of view, it's too good an invitation to pass up!

Wellington has rarely been outside the top 10 overall of her races - 7th in Roth, 7th in Korea, 8th in Arizona are just some of her performances. Her marathon times in some of her wins have been beaten by only a few men in those races. Only at Kona does she find herself outside the top 10 (22nd in 2009, for example).

And let's face it - you don't see this in marathon or track running. Even Paula Radcliffe's world record places her only 473rd on the 2009 performance lists for men, and 3205th in history. The elite men are sufficiently "spread out" across the world's top ten or so marathons that the first woman is usually in the top 20, but when comparing 'like to like', the women are well down.

So, is Wellington the greatest endurance athlete in the world? A woman with a real chance of winning races overall? Or is "competitive balance" of Ironman events misleading us, much as it does for ultra-distance running events? By nature, any "niche" event is going to throw up some misleading comparisons, and that may be the case here.

It's a great debate, which I must emphasize takes nothing away from Wellington - when you are breaking records by minutes, setting new records on BOTH the bike and run leg, going undefeated in such long races, winning on debut, you are exceptional. Judged against women, Wellington, at 33, is on the verge of being the greatest ever. And her 2010 year deserves that recognition.

However, to fully answer the male-female question, we need a benchmark. And that benchmark provides an interesting discussion because it must come from men's performances.


Male vs female performance

It's particularly difficult to benchmark female performances in a sport like triathlon. Three disciplines, differing conditions from one race to the next and within each race (thanks to the length), and the mass participation nature of Ironman events means that simply comparing times doesn't quite work.

You can do this for track and field, however. The graph below illustrates the comparison between the men's world record and the women's world record for the track events. You'll note that all women's records are between 9% and 13% slower than the men's times. Given the long history and the relatively standardized conditions (for world records, which are almost always set in ideal conditions), these numbers show pretty clearly that men outperform women by around 10% (and that is even with the obvious doping by women - the true figure is likely more than this).





Now, let's look at Wellington's performances in the Ironman, as shown by red symbols. First, what is her place in history compared to other winners? Below is a graph that compares the winning performances at Kona for women to the men's winning performances since 1995 (three generations of athlete). This is done so that the varied conditions (and Kona can be very different, with heat and wind) are somewhat controlled for.





The difference, you can see, is pretty much the same as for the track and field events, with a few exceptions, where women are well down on the men (upward of 13%). Wellington arrives in 2007, and goes from 10.8% to 9.7% to an amazing 6.7% slower than the men in her three wins. This year, Mirinda Carfrae is only 9.8% off the men's winner.

Clearly, Wellington has been to the Men's Kona winner what most female track and field world record holders are to their male counterparts. She is, from that point of view, in exactly the right place compared to the best men (admittedly, those track women got there with substantial doping. I don't know what the doping landscape of Ironman triathlon is - I'd be naive to say it doesn't exist, but if Wellington is as close to the men as track females are while doping, then her performance is doubly impressive)

There are also other exceptional performances - the blue triangle in 2002 is Natascha Badmann's 9:07 performance, which was only 7.5% slower than the men's winner that year (Timothy de Boom in a relatively slow 8:29:56. This Badmann performance also shows up the flaw in this analysis - year by year is too variable - was that men's performance just very weak that year? Did race tactics affect it? The fact that two years later, Badmann wins the race a full 15% slower than the men's winner confirms this - year on year comparisons of winners leaves some variability, and that's why a more "rigid" benchmark is needed.


Wellington - bringing women's triathlon to where it should be

So let's use the men's course record as the benchmark. There are problems with this comparison, too, of course. For one thing, variable weather from one year to the next can blow out the differences when you compare isolated performances with a 'best ever' performance, but I think the trend will be revealing when combined with what we discussed above. You could do this same exercise with the average of the men's times, incidentally, and subtract about 3% off the difference.

So, in 1996, Luc van Lierde of Belgium won the race in 8:04:08, which still stands as the record today. Comparing all the women's winning times since 1995 to that performance, Wellington's impact on the sport stands out a little more, as you can see in the graph below.





Now, you can see how women's triathlon may actually be entering a "golden era", where the gap between the fastest ever seems to be coming down. From 1995 to 2008, women winners were consistently 12% or more slower than the male record. In fact, in the 1990s, women were on average 16% slower than the men's record. However, Wellington got closer and closer until in 2009, taking the women's record to 10.3% slower than the men's record with her 8:54 performance.

Note that this is still relatively "normal" - 10.3% is in fact the AVERAGE difference between men's and women's track records (and I don't want to keep harping on about doping and those women's records, but I have to point it out one last time).

The point is that Wellington's amazing performances are not so much bringing women to the point of being able to beat the men, but rather that Wellington has begun to bring women's performances in Ironman events to where they should be, relative to the men! I know that the magnitude of these improvements are small - 1% here and there. But bear in mind that if the world marathon record was improved by 1% tomorrow, it would be 1 minute 15 seconds faster. And we don't expect to see that anytime soon! So Wellington really has pushed the event forward.

The same comparison for her other Ironman performances is even more impressive. In the Arizona event earlier this year, she was only 5.9% outside the men's winning time (by Timo Bracht). However, here again, you have what may be a misleading comparison - as good an athlete as Bracht is, he's not the dominant athlete of his category, like Wellington. However, it's a special performance nevertheless, and if it continues, then Wellington will be able to stake a claim for being the best ultra-endurance athlete in the world.

Compared to the men's overall Ironman event record of 7:50:27 (also by van Lierde in 1996, in Ironman Europe), Wellington's fastest Ironman-event performance of 8:36:13 this year is 9.7% slower, so that too is in the right range, compared to what we know of men vs women performances. It has been pointed out below that Wellington's all-time best of 8:19 came at Roth, as did van Lierde's 7:50, which means the two could be compared - then the difference comes down to 6.1%, which is far and away the closest a women's record comes to a male best performance.

Certainly, given what we've seen from Wellington - the gradual progression - there's plenty of reason to believe that given the right day, she has a few more minutes left in her and that means the men-women gap may be due for further closing.


Conclusion - dominant female athlete, closing the gap but not unexpectedly close to the men

The conclusion I'd draw then is that Wellington has taken women's Ironman distance triathlon and bounced it forward by virtue of her amazing performances. However, she's not yet closed the gap beyond what would have been expected given a normal male vs female comparison. The fact that women were regularly 14% or more behind men in the 1990s, even with Newby Fraser's exploits suggests to me that women's triathlon is only now beginning to grow in competitive depth and quality.

Wellington is at the forefront of that quality. Her year in 2010 has established a new standard for women's triathlon and I fully expect to see many more sub-9 hour performances in the coming years. We will even begin to see competitive races at 8:50 pace or faster, within the enormous time-gaps of years gone by, and that's a sure sign of improving competitive quality.

Wellington has therefore slotted in where she should - she's exceptional, but thoughts of her breaking down the male-female performance divide as a little premature. And she may yet improve more, and then we'll revisit this topic again!

Ross

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando se cruza uma linha

Constantemente ouvimos falar de casos de atletas que são flagrados em exames de controle de doping, cuja presença de substâncias proibidas foi detectada em seu organismo.

Quando estes casos são detectados em competições internacionais, com atletas estrangeiros e em modalidades de grande retorno financeiro como o futebol, o tênis ou os ciclistas do pró tour estes casos já nos chocam. Eles nos fazem pensar sobre as compensações financeiras da vitória, superando os riscos de ser pego, sobre o caminho que o esporte de alto rendimento está seguindo, sobre se existe algum atleta de elite ainda limpo.

Entretanto, quando sabemos de um caso mais próximo, dentro do nosso esporte, com um atleta que conhecemos, contra quem já podemos ter disputado uma competição a questão se torna muito mais pessoal. Nos sentimos traídos, enganados, trapaceados. A questão do doping sai de uma perspectiva generalista abstrata, de fenômeno do esporte, e assume um caráter concreto. Isto nos faz refletir sobre os porquês deste fato, os motivos, as formas e todos os fatores que fizeram estes atletas se utilizarem de tais substâncias, na tentativa de encontrar alguma explicação que possa nos trazer alguma segurança dentro do contexto esportivo em que vivemos. Segurança de que os infratores serão pegos, segurança de que o esporte que praticamos é limpo e até a segurança de que posso competir limpo e vencer e de que não seremos um dia parte também deste processo.

Mas até por este caráter de repúdio e de busca de segurança, uma reflexão responsável é necessária para que não caiamos em armadilhas. Isto porque, assim como temos (nós como sociedade) a tendência a reverenciar nossos ídolos, dotando suas figuras de todas as virtudes e buscando absorve-las (as virtudes) de volta, no momento em que os assumimos como exemplo, também temos a tendência de atribuir aos “vilões”, todos os vícios da sociedade. Desta forma conquistamos a segurança de poder separar os indivíduos entre bons e maus, nos sentindo virtuosos por imitar os ídolos e projetando tudo o que não conseguimos aceitar como parte da realidade, como algo que está presente no meio de nós, em indivíduos que, por alguma falha maior ou menor, de princípio, caráter ou conduta, acabam por personificar este papel de vilão, ficando então indissociados do fato em si.

Um atleta que desrespeita uma regra “tabu” como o doping, passa a ser considerado não apenas um mau atleta, que desrespeitou uma regra, mas alguém sem caráter, dissimulado, um ser humano ruim.

Por isso precisamos jogar um pouco mais de luz sobre o uso de substâncias proibidas, ou doping, para que então possamos começar a compreender os reais motivos que levam um atleta, profissional e amador, a se utilizar de tais métodos, para que então possamos pensar em educação, controle e responsabilização.

Quando falamos em doping e atletas se dopando, precisamos pensar em diversos fatores: Existe algum perfil especial de atleta que se dopa? Quais os motivos que levam um atleta a se dopar? Existe mais de um motivo? Entre outros que vão nos responder os porquês e os como da situação.

Existem diversa discussões acerca dos perigos e ameaças do doping. Tanto do ponto de vista médico como do ponto de vista filosófico, quando se sai do senso comum de condenação, revolta e recusa em se discutir o assunto abertamente (ao meu ver, o grande motivo pelo qual avançamos muito pouco em termos de educação anti-doping), ainda não existe um consenso sobre perigos-benefícios e o conceito de aceitável-inaceitável, quando se discute sua liberação. Entretanto existe um consenso geral. De que uma vez que existe uma regra formal que proíbe o uso de métodos e substâncias específicas, o seu uso por parte de um atleta configura uma infração a esta regra, ofensa ao fair play e portanto trapaça.

Este é o princípio de qualquer regra, existe um código específico e a infração a esta regra, embora traga ganhos para o infrator, deverá receber uma punição adequada para que estes ganhos não compensem as perdas consequentes. Mas infelizmente como toda regra, muitas vezes os atletas testam os limites na busca por algum benefício, de não serem pegos, do ganho ser maior que a perda ou de simplesmente pensarem apenas no ganho ignorando as perdas. Isto acontece desde um jogador de linha que arrisca ser expulso ao defender com a mão um gol certo no futebol, até um atleta que se utiliza de um método proibido para estar em condições fisiológicas melhores que seus adversários correndo o risco de ser suspenso por dois anos. E esta consciência entre perdas e ganhos que precisamos avaliar.

Existem diferentes motivos que levam o atleta a se dopar e este motivos tem a ver com sua intenção, seu grau de conhecimento, seus recursos, seu ego, sua disciplina, seu fair play e sua força de caráter. Cada ponto atrairá ou impulsionará o indivíduo em direção a infração de uma forma específica, sendo causa e determinando o porquê deste comportamento. Por isso não podemos generalizar os casos e culpabilizar os atletas da mesma forma, embora a responsabilidade pelo uso e o fato em si devam ser tratados igualmente no momento da punição, uma vez que o teste julga a presença da substância e não a intenção do atleta. Nem sempre os atletas estão buscando o caminho mais fácil ou uma vantagem desleal, mas o resultado é o mesmo.

Da ingenuidade:
Embora muito alegada pelos atletas quando pegos, que afirmam não saber como o resultado positivo foi encontrado, culpando suplementos, chás, e medicamentos naturais, esta vertente é realmente muito pequena, mas precisa ser considerada. Ela ocorre principalmente em atletas mais simples, que não entendem de suplementação, de substâncias proibidas, de responsabilidades. São pessoas humildes, que seguem a risca tudo o que treinadores, médicos e nutricionistas, do alto de sua suposta autoridade, lhes prescrevem. Como atletas, muitas vezes eles tem consciência de que o doping é errado. Talvez se lhes fosse explicado que iriam tomar substâncias proibidas possivelmente se recusassem. Mas o que ocorre é diferente, normalmente as substâncias lhes são dadas alegando serem vitaminas, suplementos normais, sem risco e sem restrição. Através de sua ingenuidade são levados a se doparem e normalmente quando pegos são direta e unicamente responsabilizados e abandonados por aqueles que lhes fizeram a prescrição.

Da Irresponsabilidade:

O principal objetivo desta vertente é a de diferenciá-la da ingenuidade. Neste caso os atletas não são figuras humildes, não são influenciados por terceiros inescrupulosos. Eles simplesmente não se dão conta da responsabilidade que têm de manter seu corpo limpo. Tomam remédios sem prescrição, não se preocupam com a procedência de seus suplementos, desconhecem a lista de substâncias proibidas, não leem rótulos, acham que por serem naturais, certos produtos não serão considerados doping e acabam se expondo a riscos desnecessários durante sua carreira esportiva, muitas vezes sendo surpreendidos por resultados positivos. Neste caso a intenção do uso ainda não está presente, mas a irresponsabilidade já se encontra acima da ingenuidade.
Da sensação de inferioridade:

Nesta vertente a intenção já começa a aparecer, ainda não no sentido do levar vantagem ou de trapacear com convicção, mas o aleta já sabe exatamente o que está fazendo. Neste caso o atleta se dopa não por querer levar vantagem sobre os outros, mas ele acredita que ao se dopar está simplesmente diminuindo a diferença entre ele e os outros atletas. Esta vertente é bastante polêmica, pois é muito contestada por médicos e atletas. Nela se concentram os casos de atletas que se utilizam de substancias proibidas (autorizadas ou não por meio das isenções de uso terapêutico) por se considerarem física ou fisiologicamente inferiores aos atletas limpos. Atletas com bronquite, capacidade pulmonar reduzida, déficits hormonais e outras doenças são os mais comuns. Embora o esporte competitivo seja sobre diferenças físicas, técnicas, genéticas e de capacidades, estes atletas julgam que a compensação de suas deficiências é mais justa do que a compensação de outras deficiências de outros atletas em relação a eles.
Outro ponto desta vertente são os atletas que se convencem de que todos os atletas se utilizam do doping, de que ele atingiu todos os limites possíveis do ser humano em termos de dedicação, recursos e treinamento e que todos aqueles que ganham dele é porque estão dopados. Aí mora um grande perigo, pois é fácil dar um passo a frente e justificar o início do uso de uma substância ou método proibido dizendo que apenas está diminuindo a diferença, se dopando como todos para que a competição seja mais justa. Talvez este atleta seja o mais propenso a começar a se utilizar do doping, pois a sensação de injustiça prévia muitas vezes confunde e distorce o processo racional e a manutenção dos valores, o atleta vai sempre responsabilizar os outro pela sua conduta e assim se esquivar de sua própria auto condenação.

Da falta de opção:

Neste caso estão os atletas desesperados. Eles vivem do esporte, são atletas (no que diz respeito a constituição de sua identidade), pagam suas contas com a premiação e os patrocínios e dependem de uma convocação, de um índice ou de um resultado importante que julgam estar fora de seu alcance dentro das condições normais. O atleta sente sua vida ameaçada e enxerga no doping uma última oportunidade de conquistar aquilo que tanto sonhou. Ser pego é uma ameaça, mas não conseguir o resultado também o é. Em seu modo de pensar, estar limpo e não conquistar o objetivo de nada lhe valerá, pois irá ter de abandonar o esporte. Caso seja pego, terá, da mesma forma, que abandonar o esporte. Mas em sua lógica ele costuma ignorar todo o prejuízo da segunda opção e se concentra em uma terceira, a de conquistar o resultado e não ser pego. Para ele os fins justificarão os meios, e ele ainda pode garantir que só tomará para aquela competição, que depois as coisas ficarão mais tranquilas e ele irá parar. Mas não é isso que acontece e sempre que a corda apertar ele vai recorrer a esta saída. Normalmente esta situação ocorre com os atletas profissionais, cuja identidade e a vida dependem de sua prática e de suas vitórias. Mas com a cultura do imediatismo, da conquista e da necessidade de alcançar o resultado aqui e agora, muitas vezes vemos atletas amadores que buscam um título, um índice ou uma vaga em um torneio importante acabam se arriscando nesta “roleta russa”, que muitas vezes oferece ainda menos risco, pois muito raramente em alguma competição, mesmo em mundiais, os amadores são testados.

Da vantagem:

Por último chegamos ao conceito da vantagem pura. Aqui encontramos o atleta realmente inescrupuloso, que quer levar vantagem sobre seus adversários, que busca o caminho mais fácil, que muitas vezes nem tão mais fácil é, pois a substância permite ao atleta treinar mais horas e sofrer durante mais tempo. Este atleta sabe o que está fazendo e até espera que ninguém mais o faça, para que sua vantagem seja ainda maior. Ele busca a glória, a superação, o reconhecimento, a reverência. Seu ego e seu orgulho são inflados e suas motivações na maioria das vezes são extrínsecas: prêmios, medalhas, reconhecimento. Não existe inocência aqui e sim um a grande sensação de impunidade, de que nunca vai ser pego, de que seu esquema é melhor, de que ele é mais esperto que o sistema. E é justamente este orgulho que acaba criando falhas em seu método e fazendo com que ele seja pego. Muitas vezes frente a um resultado positivo alega ingenuidade, inocência e culpa a todo o sistema, entidades, adversários preferindo acreditar que foi vítima a assumir, não que infringiu uma regra, mas que seu sistema de infração não foi bom o suficiente.
Com certeza existem mais vertentes do que estas aqui apresentadas, e cada uma delas não ocorre de forma estanque. Em um caso de doping talvez possamos identificar um fator principal, mas ele nunca ocorre sozinho. Muitas vezes ele é fruto de um processo em que o atleta inicia por um motivo, em uma determinada situação, com uma responsabilidade específica e com o tempo o contexto vai se modificando e o atleta vai encontrando motivos e justificativas para continuar. E quando é pego e lhe perguntam, muitas vezes não consegue nem sequer justificar o porquê para si mesmo.

Mas pelo que podemos ver nestes diversos perfis, existe um fator em comum presente nos diferentes casos. Este fator é a busca por algum método ergogênico. Do mais inocente, ao mais inescrupuloso, todos entram nessa partindo de um princípio: A busca por algo que melhore sua performance, nas competições ou nos treinos. Nem sempre quem se utiliza de suplementos e outros métodos legais de treinamento e preparação será candidato ao uso de substâncias proibidas, mas quem se utiliza delas, com certeza passou por todos os métodos, substâncias e materiais legais antes de se arriscar no proibido. Pois doping exige conhecimento, teste, busca. E durante a busca os limites do que faz bem ou mal, do que ajuda ou não, do que é natural, justo ou aceitável vão ficando tênues se não estivermos firmes nos valores de justiça, fair play e caráter. Precisamos ter clareza do conceito de que existe uma regra e que a simples e mais branda infração desta já se constitui como infração. E toda a infração deve ser punida.

Por isso, enquanto não pararmos para discutir abertamente a questão, e não buscarmos compreender os motivos e as causas que levam diferentes atletas, de diferentes modalidades, em diferentes momentos a se doparem, não teremos a capacidade de desenvolver programas específicos de combate ao doping que possam convencer os atletas, responsáveis últimos pelo uso de qualquer substância, de que os valores éticos e o respeito as regras do e no esporte devem ser mantidos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vivendo o sonho

Encontrei essa coluna escrita por Bob Babbit na última página da revista inside triathlon. Me dei o direito de traduzi-la e colocar aqui no blog (depois de tanto tempo), pois trata do momento da tomada de decisão na vida de um atleta em se tornar profissional. Nas opções e decisões, muitas vezes difíceis, e no fato de se assumir a responsabilidade sobre as próprias escolhas e suas consequências.
Boa leitura

Ele estava embalado na carreira e nunca tivera dúvidas. Ele foi do colégio para a faculdade, onde se formou em comércio, depois se especializando em contabilidade. Em seu crescimento, a educação era tudo em sua casa, e ele deixou sua mãe e seu pai orgulhosos. “Na nossa casa foi sempre educação em primeiro, esporte depois”, ele dizia. “Praticar esportes era algo para o fim de semana”. Ele estava com 23 anos, tinha um bom emprego, possuía dois ternos e uma coleção de camisas e gravatas, lia as noticias financeiras diariamente enquanto ia de trem para o trabalho e recebia um belo pagamento toda quinta feira. Além disso, ele tinha uma ótima vista da cidade da janela do seu escritório.

E ele odiava cada segundo de cada dia.

“Eu estive no meu trabalho por 10 meses e olhava pela janela sonhando em pedalar, nadar e correr”, ele se lembra “Eu provavelmente não era um contador muito produtivo”.

Ele havia tido sucesso como triatleta amador, mas e se ele pudesse largar seu trabalho e viajar o mundo para competir como triatleta profissional?

Um certo dia ele foi até seu chefe e avisou que estava se demitindo “Meu chefe achou que eu tivesse outra oferta de trabalho, e riu quando eu disse que não, que estava saindo para me tornar um triatleta profissional.Ele achou isso hilário”

Mas como contar as notícias aos pais? Isso ia ser uma missão difícil. “Por duas semanas eu acordava pela manhã, vestia o terno e a gravata, e meu pai me deixava na estação de trem” ele se lembra. “Então eu descia na primeira parada, voltava para casa e gastava o dia com minha bicicleta.

Mas ele sabia que um dia ia ter que encarar a realidade. Quando ele finalmente sentou com seus pais para contar a notícia sua mãe o apoiou, mas seu pai permaneceu em silêncio. “Isso foi o pior”, ele diz. “Eu teria preferido vê-lo zangado e gritando comigo. Quando ele se calou eu disse, pai, não fique desapontado, fique bravo”.

Mas na verdade, seu pai estava apenas processando a informação. A resposta de seu pai foi algo de que ele se lembrará para sempre. “Ele disse ‘Filho, se é isso que você quer fazer, se você quer se tornar um atleta profissional... Então seja um atleta profissional. Não perca os próximos 10 anos de sua vida sendo estúpido. Faça do jeito certo. Se você se tornar o melhor que você pode ser,eu ficarei muito orgulhoso de você’”.

Ele comprou uma passagem de ida para a Europa, voou para Paris com $2700 em seu bolso e comprou uma revista de triathlon quando aterrissou. “Eu me hospedei em um desses hotéis baratos formula1 e competia três vezes a cada fim de semana. Eu iria competir até conseguir ou até que meu dinheiro acabasse”, ele se diverte.

Em Orange ele pagou adiantado por três noites e acabou ficando cinco. “A gerente do hotel ficava indo até o meu quarto para buscar o dinheiro para a quarta e quinta noites”, ele se lembra. “Eu acabei pulando a janela e fugindo do pagamento das duas últimas noites. Ela provavelmente procura até hoje por mim”.

O triathlon é um pouco diferente na Europa. Ele podia competir em um evento menor na sexta feira à noite e em um maior no sábado na mesma cidade, na França. Então ele podia pegar o trem noturno, evitando ter de pagar uma noite de hotel, chegar à Suíça pela manhã e então competir no domingo. ”Em um final de semana eu ganhei $1000 e me senti o homem mais rico do mundo, que eu nunca teria de trabalhar novamente”, ele diz. “Eu estava espantado e emocionado com tudo aquilo. Eu queria provar para meu pai e minha mãe que eu havia feito do jeito certo, que eu tinha tomado a decisão certa”.

Essa decisão o levou a vencer o Campeonato mundial de triathlon olímpico em 1997, Wildflower, Escape from Alcatraz, triathlon de Chicago, St. Croix, o Ironman da Austrália, o mundial de Ironman no Havaí em 2007 e outras incontáveis conquistas.

Os sonhos se tornam realidade?
Pergunte a Chris McCormack

segunda-feira, 15 de março de 2010

Para onde você deixa a sua cabeça te levar?

Muitas vezes, na pressa e na rotina dos treinamentos e competições, o atleta passa pelas conquistas e os fracassos sem tempo para avaliar os resultados de seus esforços e os motivos que foram determinantes para o resultado final alcançado.

Nestes momentos são comuns vitórias seguidas, que enchem os atletas de motivação para continuar treinando, de energia para vencer o cansaço e de confiança para enfrentar e vencer qualquer adversário. Nestes momentos o atleta se coloca inconscientemente em um estado de ânimo tão positivo que quase como por inércia os bons resultados tendem a se repetir cada vez mais. Parece que tudo dá certo para ele, a sorte está do seu lado, e os desafios parecem simples e fáceis.

Por outro lado também são comuns os períodos difíceis, onde as derrotas e os maus resultados se repetem. Tudo parece difícil, duro, inalcançável, as coisas dão errado e o atleta não consegue sair desta situação, parece preso em areia movediça, quanto mais luta para sair, mais se afunda. Neste momento os pensamentos negativos se estabelecem na consciência do atleta e falta-lhe motivação, energia e confiança para lutar pelos seus objetivos.

É óbvio que a primeira situação é muito melhor que a segunda, mas a falta de consciência durante qualquer uma destas situações faz das possibilidades de aprendizado e crescimento do atleta, igualmente limitadas em qualquer um dos cenários.

Desta forma é fundamental que possamos tomar consciência dos aspectos que influenciam nossos resultados e estar constantemente aprendendo tanto com as derrotas, quanto com as vitórias. Estes aspectos estão ligados a hábitos produtivos, escolhas e caminhos que buscamos a cada ação que realizamos em direção ao objetivo final. Na busca por bons resultados devemos estar constantemente positivos em um ciclo virtuoso de ações e pensamentos.

De maneira simplificada poderia levantar quatro aspectos inter-relacionados, que influenciam diretamente os desempenhos e resultados dos atletas em competição. É difícil ordenar sua importância, mas como meu trabalho atua mais diretamente com as questões cognitivas começo sempre com o pensamento.

É fundamental manter o pensamento positivo diante de todos os aspectos envolvidos no esporte. Confiar nas próprias capacidades, nos treinos, na evolução, encarar os desafios como oportunidades, chances para crescer, se superar. Estes aspectos nos garantirão uma perspectiva positiva em relação à atividade e em relação à própria vida, diminuindo o peso das dificuldades e o tamanho dos obstáculos. Este pensamento positivo nos leva ao segundo aspecto, as atitudes. Pensamentos positivos aumentam a probabilidade de apresentarmos atitudes positivas.

Atitudes positivas são aquelas ligadas aos valores de produtividade e crescimento. No esporte, diretamente, são as atitudes que ajudam o atleta a evoluir. São o trabalho duro, o esforço, a dedicação, disciplina, forçar os limites, persistir, e todos os aspectos necessários na formação de um grande atleta. Estas atitudes, quando realizadas de forma intencional e com empenho irão influenciar o próximo aspecto envolvido na performance, o resultado. Atitudes positivas aumentam a probabilidade de alcançarmos resultados positivos.

Aqui entramos na situação que descrevi no início do texto, quando entramos em uma seqüência de resultados positivos começamos, quase de forma inconsciente, a entrar em um estado positivo tal que tudo parece ser mais fácil e tanto os obstáculos começam a parecer menores, quanto os resultados aparecem de forma mais natural. E quando falo em resultados não me limito aos resultados de competição, mas também aos mais simples resultados conquistados através das atitudes positivas. E como o resultado é a finalidade da prática esportiva, os resultados positivos nos conduzem ao último aspecto, as emoções positivas. Os resultados positivos, principalmente quando são resultado de todo o processo descrito aqui, produzem as emoções positivas.

E afinal são as emoções positivas que nos dão tanto prazer em continuar trabalhando em busca de nossos objetivos, são aquelas sensações de dever cumprido, de capacidade, de realização de alegria. São os sentimentos que reforçam a autoconfiança, a auto-estima do atleta e que em última instância estão relacionados ao conceito de FELICIDADE.

Então fechamos o ciclo virtuoso quando os sentimentos positivos influenciam os pensamentos do atleta. Um atleta confiante, com grande auto-estima, feliz e se sentindo capaz de conquistar seus objetivos mantém naturalmente os pensamentos mais positivos diante de qualquer situação.

Por outro lado, este aspecto se repete da mesma forma no sentido inverso quando não cuidamos com cuidado de todos estes aspectos. Quando começamos a pensar de forma negativa somos levados a atitudes negativas, que causam resultados negativos, nos trazem emoções negativas e nos afundam cada vez mais nos pensamentos de incapacidade, inferioridade e medo diante dos desafios.

Por isso é tão importante pensarmos onde estamos deixando nossa cabeça nos levar, se temos controle sobre o que pensamos, se cultivamos atitudes produtivas, se estamos buscando a felicidade de forma correta e fazendo com que nossas conquistas nos impulsionem cada vez mais a frente. Afinal o desempenho é resultado de todo um processo objetivo e específico e não resultado do acaso, e quanto maior o controle sobre o processo, maior a probabilidade de sucesso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Persistência

Não costumo colocar muitos textos de fora no blog, ou quando coloco normalmente o faço de forma comentada, ilustrando algumas das minhas idéias e opiniões.
Este texto eu encontrei no blog da equipe de natação do clube Paineiras do Morumby, gerenciado pelo head coach Wlad, que procura sempre trazer informações, textos e idéias novas para seus atletas, de forma dedicada e persistente.
O texto em si eu já achei muito interessante, mas decidi colocar aqui quando, em uma conversa com uma amiga que havia acabado de ser cortada de uma seleção, mostrei o texto e ela depois me disse que ele a ajudou a deixar de lado a frustração e a voltar a pensar nos treinos.
A tradução é do próprio Wlad.

Persistência

Por Angie Wester-Kreig
Atleta Olímpica em 1992 e Medalhista Panamericana


Eu comecei a competir com sete anos, o que 'e quase normal para todos os nadadores de elite. Vinte anos e quatro Seletivas Olímpicas depois, eu ainda continuava treinando. Eu era a mais velha mulher no time de natação americano na Olimpíada de 1992, e também a mais velha "caloura" em qualquer Olimpíada já realizada. Minha primeira Seletiva Olímpica foi em 1980. Alguém poderia olhar minha situação e dizer que ninguém na equipe tem mais seletivas nas costas dos que eu, mas também ninguém teve mais desapontamentos nelas do que eu. Não existem atalhos na natação. Nos todos já ouvimos isto antes. E, não existem formulas milagrosas de sucesso também. Todos nos temos nossa própria formula de sucesso que ao final das contas nos ira levar a vitoria. Isto porem em algumas vezes levara um pouco mais de tempo para chegar aonde você quer: ao objetivo. Eu era uma das participantes da Seletiva Olímpica Americana em 1980, então em 1984 eu já era uma das finalistas da Seletiva, porem não cheguei a me classificar para a Equipe Americana. Em 1988, ao contrario de 1980, eu sequer cheguei as finais. Então, em 1992 finalmente eu consegui fazer parte da Equipe Americana para a Olimpíada. Isto foi 12 anos depois do que eu esperava para uma Seleção. Doze Anos!!! Sim, isto 'e um bocado de experiência, mas também 'e um bocado de desapontamentos e desesperanças. Minha carreira inteira eu me senti frustrada porque eu sempre me classificava para os Nacionais porem nunca ficava entre os primeiros. Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe. E se existisse somente uma coisa que estes DOZE anos me ensinaram: nunca NUNCA NUNCA NUNCA DESISTA! Freqüentemente 'e dito que todos numa Seletiva Olímpica espera de algum modo, fazer parte da Equipe Olímpica. Não importa quão longe isto possa estar para as pessoas de fora, se em seu coração você não acredita que você tem uma chance, você então nunca lá poderá estar. Eu pensei que tinha uma chance em 1980. Eu pensei que eu tinha uma chance em 1984, e em 1988 e em 1992. A coisa que fez minha formula para o sucesso: PERSISTENCIA.
A Seletiva Olímpica de 1992 foi uma fantasia para mim. Nadei três provas para o melhor tempo de toda minha vida, provas que eu já havia nadado mais de uma centena de vezes em toda minha carreira. Pessoas falam sobre cansaço, e sobre como aprenderam a odiar a natação. Mas eu amo nadar. E eu curto muito isto, mesmo hoje. Nos dias de hoje nos estamos vendo vários atletas conseguirem resultados após anos de piscina, Mat Biondi, Pablo Morales, Killion, Jorgeson, Barrowman (todos excepcionais atletas americanos, no Brasil temos Rogério Romero como maior exemplo), e todos eles melhorando suas marcas. Isto significa que não acabamos aos 22 anos. Existe uma vida toda lá fora após o colégio, e se você achar a “atmosfera" correta pode ser uma maravilhosa combinação para uma gratificante experiência. Eu poderia ter abandonado as piscinas em 1988. E muitas pessoas poderiam, e disseram, ter dito para eu fazer isto. Eu tinha 23 anos então, e eu era velha para uma nadadora. Mas logo após poucas semanas depois de minha decepção nas Seletivas eu estava de volta as piscinas novamente, não porque eu tinha que fazer aquilo, ou porque alguém tinha me dito para fazer isso, eu estava de volta, pois eu gostava daquilo e tinha alegrias lá. Logicamente não era a todo o momento alegre treinar. Mesmo quando eu estava super empolgado na época da Faculdade, eu sentia como que deveria nadar e conseguir uma bolsa de estudo, como forma de agradecimento aos meus pais por todos os anos de apoio que eles tinham me dado. Eu era a única nadadora que marcava pontos para minha equipe (San Jose State) no NCAA (Principal Campeonato Absoluto Americano). Eu aprendi a confiar em mim mesma. E como única integrante da minha equipe em tais campeonatos, eu coloquei também muita pressão em mim. Natação 'e um esporte individual e nos freqüentemente colocamos mais pressão em nos mesmos do que deveríamos. Com a perspectiva de 20 anos de natação, um emprego em tempo integral, casada, eu aprendi como ter alegrias com a natação. Meu técnico na Faculdade ajudou-me a colocar as coisas em perspectivas mostrando-me o quanto a escola e o trabalho são na vida, e encorajando-me a não levar as coisas tão a serio. Competindo contra Mary T Meagher (ate então a recordista nos 200 Borboleta) também me ajudou a perceber que todos que competiam comigo eram somente seres humanos. Vendo os nadadores de elite relaxando antes das provas no balizamento, antes de suas principais provas, também me ajudaram a relaxar. Eu aprendi muito com isto. Eu comecei a olhar desse jeito: “Eu sou sortuda por estar aqui. E se eu somente relaxar e tentar ser o melhor que eu posso isso será legal". Finalmente, olhando a grande estrada que eu passei ate as Olimpíadas, eu vejo mais claramente agora o que eu sabia então. SUCESSO VEM DO CORACAO. A equipe de San Jose não 'e uma potência, e eu fiz a maior parte de todo meu treinamento totalmente sozinha. Quando eu terminei a faculdade, eu era obrigada a treinar aonde eu podia arrumar uma piscina. As vezes treinando sozinha, as vezes correndo próximo de Stanford, as vezes treinando com equipes master, eu fiz o melhor que eu podia com o que eu tinha em mãos. Somando-se a este ritmo de treino forte e agitado, um emprego em período integral não fazia as coisas mais fáceis, ao contrario. Mas eu sabia que se eu continuasse tentando e trabalhando e acreditando em mim, eu poderia conseguir. Escola, namorados (e maridos), vida em família, tudo coloca pressão, mas se você continua e se mantém firme em seus ideais o tempo suficiente, você ira achar sua própria formula de sucesso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma luz sobre o fracasso (ou como atingir os objetivos estabelecidos)

É óbvio que sempre queremos falar das vitórias e das conquistas. É isso que sempre buscamos, é a razão de todo o esforço e dedicação a que nos submetemos quando nos envolvemos em uma competição esportiva.

No pólo oposto, a simples menção da palavra fracasso nos causa resistência, antipatia e até medo ou receio. Mas infelizmente o fracasso faz parte do esporte (e da vida), tanto quanto o sucesso e o fato de ignorarmos esta condição primordial não nos torna menos sujeitos a ele. Pelo contrário, quanto mais preparados para enfrentar a possibilidade de fracassar estivermos, mais capazes de evitá-lo seremos e mais eficientes em transformar os possíveis fracassos em sucessos futuros iremos nos tornar.
Não digo que devemos estar constantemente preocupados com o que pode dar errado, tornando o medo de perder um controlador de nossos comportamentos mais forte que o desejo de ganhar. Mas considerar que o fracasso faz parte de qualquer tentativa, nos ajuda a planejar melhor nossos objetivos na tentativa de evitá-lo. Aceitá-lo, quando ele ocorre, nos permite avaliar a situação toda de uma forma mais eficiente, para que possamos identificar os fatores que realmente foram os determinantes desta situação e corrigi-los em uma próxima tentativa.
O FRACASSO
Não podemos confundir fracasso com derrota. O fracasso pode estar presente na performance do campeão, que pode ter falhado em melhorar seu tempo ou em conquistar um índice, e o sucesso pode ocorrer para um atleta que finalmente conseguiu completar uma prova, independente de seu tempo ou posição. Em qualquer vitória podemos identificar pequenos fracassos e em qualquer derrota podemos encontrar pequenos sucessos.
O Sucesso e o Fracasso estão, portanto, muito mais relacionados aos objetivos estabelecidos do que ao resultado final concreto. Atingir o objetivo é o sucesso, não atingi-lo seria o fracasso. Mas como já disse antes não existem sucessos ou fracassos absolutos, mas precisamos admiti-los se quisermos evoluir.
Diferentes motivos podem nos levar ao fracasso, e deveremos estar atentos a cada um deles quando nos preparamos para qualquer competição.
O primeiro deles ocorre quando estabelecemos os objetivos, sem considerar os aspectos de realidade, simplesmente pautados em nossos desejos e não em nossas capacidades reais. Três fatores podem influenciar esta situação. O primeiro é o fato de nos basearmos apenas em nossos desejos. Os desejos e sonhos são fundamentais para qualquer conquista, mas eles não podem depender apenas do querer, precisam se basear em uma correta avaliação das condições pessoais e das capacidades já demonstradas em situações anteriores.
A busca pelos objetivos também pressupõe trabalho. E a capacidade, desejo e iniciativa para realizar o que é preciso também precisam ser considerados no estabelecimento dos objetivos. O fracasso neste ponto ocorrerá quando a preparação ou treinamento realizado não for adequado ou suficiente para atingir o nível de performance desejado ou esperado.
Uma auto-avaliação sincera e realista também é fundamental para evitar fracassos. Conhecer as capacidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas individuais, assim como seus limites e possibilidades de enfrentar os desafios determinados, permitem uma avaliação mais correta e um estabelecimento de metas mais realistas.
Outra forma perigosa de se fracassar é a de basear os objetivos definidos em referenciais externos, fora do controle pessoal do indivíduo. O foco principal tem de ser sempre em aspectos que estão sob o nosso controle. O treinamento, a capacidade física (força, velocidade...), o potencial, todos estes aspectos dependentes do indivíduo e não do meio ou do adversário. Não somos capazes de prever como estará o tempo (fator determinante em eventos outdoor) ou as condições de competição. Não sabemos como estarão os nossos adversários, como eles estão preparados. É evidente que em uma competição temos que considerar nossos adversários, uma vez que queremos e temos como objetivo superá-los. Mas enquanto o foco for apenas o outro, deixaremos de identificar o que precisamos evoluir, nossos pontos fortes e os fracos e seremos incapazes de inclusive enxergar os pequenos sucessos em uma situação de fracasso.
Também não podemos deixar de identificar como fator determinante do fracasso o imprevisto. Fatores incontroláveis e os controláveis de que nos esquecemos podem sempre influenciar o resultado final de uma competição. Em algumas mais, em outra menos. Quanto mais dependente a modalidade for de fatores externos e fora de nosso controle, maior a probabilidade de que eles façam alguma diferença no final. Cabe ao atleta, diante dessa situação, aprender a lidar e enfrentar o imprevisto, se preparar para evitá-lo e desenvolver estratégias para que possa se recuperar ou reestruturar suas metas, diante do aparecimento destes fatores.
Sucesso e fracasso são apenas palavras, termos utilizados para descrever situações e contingências. São resultado de planejamentos e estabelecimentos de metas adequados ou inadequados para alcançar aquilo a que nos propomos, em uma determinada situação, em um determinado momento. Não carregam em si, a priori, juízo de valor sobre a capacidade do sujeito. Acertar, errar e se adaptar faz parte do jogo, e aprender com cada situação é fundamental para o crescimento e a evolução de qualquer atleta ou pessoa.