sábado, 17 de outubro de 2009

Sports Psychology: Understanding and Influencing the Road to Success

Fonte: http://www.usta.com/USTA/Global/PlayerDevelopment/Sport_Science/all/117729_Sports_Psychology_Understanding_and_Influencing_the_Road_to_Success.aspx

Mais um estudo interessante baseado em entrevistas realizadas com grandes atletas.
Publicado no site da USTA (United States Tennis Association), o artigo que leva o mesmo nome do título deste post, dos autores Suzie Tuffey Riewald, Ph.D e Kirsten Peterson, Ph.D levanta a discussão sobre os principais aspectos influenciadores do desenvolvimento de grandes atletas.
No artigo os autores apresentam um trabalho de 2003 de Riewald & Peterson, do comitê olímpico americano, que entrevistaram ex-atletas olímpicos, pedindo-os para destacar cinco fatores que influenciaram positivamente em sua carreira e os cinco principais obstáculos que tiveram que ser superados.
Estes foram os resultados obtidos:
What factors positively influenced success?
Olympians were asked to identify five factors that had a significant influence on their athletic success. Following is a description of the top ten factors (the percentage of athletes who identified this as a factor influencing their success is provided in parenthesis).
Dedication and Persistence (58%): This related to the positive influence of the Olympian’s inner drive, desire, persistence, and commitment to achieving their goals.
Family and Friends (52%): This support or influence included financial and emotional support, instilling confidence, providing an introduction to the sport, and the provision of stability.
Coaches (49%): Excellent coaches throughout their development were identified as having a great influence on success.
Love of Sport (27%): Love of, and passion for, the sport greatly influenced success, often providing the necessary motivation to continue training in less than optimal conditions.
Training Programs and Facilities (22%): The opportunity to train with club, college, national level, or resident teams and access to programs and facilities was important.
Natural Talent (22%): A genetic predisposition or God-given talent played a role in athlete success.
Competitiveness (15%): A strong competitive nature and love of competition was identified as a factor influencing success.
Focus (13%): The ability to stay focused on goals and the task at hand, despite distractions, had a significant influence on success.
Work Ethic (12%): Hard work and a strong work ethic were factors that influenced success.
Financial Support (12%): The financial support from sources such as sponsorship, college scholarship, private donors, athlete grants, and fundraising contributed to success.
What obstacles had to be overcome to achieve success?
The second question asked Olympians to list up to five obstacles to their success. After reading the list, you’ll recognize that several of these obstacles are the “flip side” of some of the identified success factors, adding even greater strength to the importance of that factor.
Lack of Financial Support (53%): Some implications of lack of financial support included increased stress and insecurity, compromised training due to having to work, and inability to compete nationally and internationally.
Conflict with Roles in Life (33%): This related to conflict experienced in trying to balance/manage multiple roles including work, career, school, family, and athletic endeavors.
Lack of Coaching Expertise or Support (29%): This related to having coaches with limited knowledge or expertise as well as conflicts with the coach.
Lack of Support from USOC and NGB (22%): Issues with these organizations included a lack of mental preparation programs, no organization or encouragement, and being too bureaucratic.
Mental Obstacles (22%): This includes such obstacles as low confidence, perfectionism, and dealing with pressure.
Lack of Training/Competition Opportunities (20%).
Medical Problems (20%): Injuries, illness, and other medical issues, as would be expected, were perceived as an obstacle to athletic success.
Lack of Social Support (11%): Family, friends and peers who provided little or no support and at times even discouraged athletic pursuits were perceived as obstacles.
Physical Limitations (8%): Identified limitations included characteristics such as height, weight, strength and endurance.
Failure (6%): This related to a fear of failure and learning to deal with failure.

Estes são dados bastante interessantes. Principalmente por terem sido obtidos através da experiência de atletas olímpicos, que já puderam refletir e avaiar sua carreira de sucesso, atribuindo valor a todos estes aspectos.
Cabe agora, aos profissionais que trabalham diretamente com os atletas de elite ou em formação, ficarem atentos a cada um destes aspectos. Desta forma as condições de preparação poderão ser melhoradas e o potencial destes atletas desenvolvido em um ambiente mais favorável.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma Perspectiva da Dor

Quanta dor um atleta pode suportar durante uma prova? E por quanto tempo ele suporte se manter neste sofrimento?
Estas perguntas me surgiram durante a prova do mundial de Ironman, disputado no Havaí, neste último dia 10. Para aqueles que não estão familiarizados, o Ironman é uma prova de triathlon com as distâncias de 3800m de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida. Apenas pelas distâncias a prova já é um desafio imenso. No Havaí então, onde a final do circuito é disputada todos os anos, o cenário é ainda pior. Muito vento, umidade altíssima e calor insuportável ainda se juntam a um percurso difícil onde boa parte é percorrida em terreno desértico, passando inclusive por antigos campos de lava.
Para muitos atletas, estar no Havaí, em Kona mais especificamente, já é uma vitória, pois apenas os melhores atletas do circuito se classificam para esta prova. Terminar a prova já é um grande desafio e uma grande recompensa. Estes atletas sofrem, sentem dores, desconfortos, passam mal. Concluindo a prova em 9 ou 17 horas(tempo limite), não há quem não se supere.
Mas o que me impressionou nesta prova foram os super atletas, que terminaram a prova em pouco mais de 8 horas no caso dos homesn e em pouco menos de 9 no caso da campeã feminina.
Podemos dizer que estes atletas são profissionais e estão super treinados, e são os melhores do mundo, mas não podemos dizer que eles não sofrem. Suas declarações após a prova são impressionantes, falam de superação, de sofrimento, de dor, e de aprender coisas sobre os próprios limites que desconheciam.
É óbvio que para quem não está familiarizado com o esporte, correr uma maratona é um sofrimento, mas estes atletas correm a prova abaixo de três horas, um ritmo impressionante para quem já nadou e pedalou 180km. E este ritmo dói. O coração, o pulmão, as pernas, os pés, os ombros, fora os desconfortos estomacais, o diafragma contraído já por umas 5 horas, que começa a doer, as costas, os desconfortos de calor, bolhas, subidas e descidas, e tudo isso por quase 3 horas. Como é possível suportar tudo isso sem cair na tentação de diminuir o ritmo?
Em uma entreveista certa vez, o canadense Peter Reid (bi-campeão da prova) disse que algum tempo antes da prova em Kona ele se isolava do mundo treinando. Neste tempo ele dizia que resolvia todos os problemas, medos e dúvidas quanto a si mesmo, pois na hora da prova, neste ritmo insuportável, se qualquer coisa se pusesse em seu caminho, por menor que fosse, desviando sua concentração, ele não aguentaria. Lembrei-me dessa declaração quando, na prova deste ano, corriam lado a lado, na segunda posição, o campeão da prova e o terceiro lugar, em busca do então líder. Durante alguns vários minutos eles correram lado a lado, na mesma velocidade, com passadas idênticas em ciclo e amplitude e com a mesma posição do corpo, como se fossem sombras um do outro. A única diferença entre eles era a cabeça, e isso foi logo notado pela comentarista, ex-atleta, grande vencedora em Kona. Enquanto o campeão mantinha a cabeça firme, olhando apenas para frente, extremamente concentrado, seu adversário já parecia estar incomodado com outros fatores. Olhava para os lados, para a moto da fimagem, para os espectadores, para o relógio, como se não suportasse ficar dentro de si, com sua dor e seu sofrimento, e aos poucos foi perdendo o ritmo e ficando para trás.
Estas cenas ficam guardadas em nossa memória e a psicologia do esporte tenta explicar alguns aspectos que influenciam nestes estados. A concentração e o foco com creteza são dois dos aspectos muito importantes quando falamos neste tipo de dor, a dor de performance. Diversos são os elementos presentes em nossa cabeça durante uma prova como esta. Elementos que nos ajudam, como o controle do ritmo, a sensação do corpo, a frequência das passadas, respiração, foco nos objetivos, entre outros e elementos que nos prejudicam, como dúvidas, medos, desconfortos e outros pensamentos inadequados. Quando aprendemos a controlar estes pensamentos conseguimos ocupar nossa mente com aquilo que é positivo, nos colocando em um estado melhor, que irá favorecer nosso desempenho.
Mas existem diferentes abordagens pessoais em relação a estes momentos de dor. Existem pessoas que preferem o que chamamos de pensamento associativo, isto é, focar a atenção em si, no corpo, na dor e tentar combatê-la e suportá-la diretamente. Outros atletas preferem o pensamento dissociativo, onde a estratégia é desviar o foco de sua situação, pensando em outras coisas, tentando "esquecer" estas sensações ruins. Muitos atletas lidam muito bem com a dor de forma dissociativa, mas uma verdade é que independente deste método, a dor sempre volta.
Objetivos fortes também nos fazem suportar melhor estes estados. Metas bem definidas, trabalhadas e alcançadas nos dão confiança para continuar em busca dos nossos objetivos finais. E se estes valem realmente a pena eles serão mais fortes que a dor. Segundo o grande ciclista Lance Armstrong: “Pain is temporary. It may last a minute, or an hour, or a day, or a year, but eventually it will subside and something else will take its place. If I quit, however, it lasts forever.” Pensar portanto no objetivo final além da dor, nos leva a sempre estender um pouco os limites.
Esta dor é, portanto, aceita como parte inerente ao processo do treinamento e da competição. Ela é inevitável apesar de todo o treinamento desenvolvido e do nível do atleta, pois quanto mais treinado ele for, mais ele terá condições de ultrapassar seus limites. Assim como os limites do corpo são estendidos, os limites da dor também o são. E feitos impossíveis para grande parte da humanidade são simplesmente suportados pelos grandes atletas, as custas de recursos muito bem desenvolvidos, mas não menos sofridos e dolorosos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Trazendo o futuro para perto

Com a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos olímpicos de 2016, diversos atletas expressaram seu desejo de continuar competindo até lá. Além deles, inúmeros jovens ainda em fase de formação já sonham com o dia em que poderão disputar uma medalha olímpica dentro de seu país. É claro para todos a importância de um objetivo como este e a capacidade que ele tem de nos motivar, pelo menos, a tomar uma decisão e começar a trabalhar em função dele. Mas o grande problema é que ainda faltam sete anos para o início dos jogos do Rio. Podemos estar motivados hoje para competir, mas o que ocorrerá no meio do processo, quando o objetivo final ainda estiver distante, os treinamentos duros, cansativos e monótonos e os resultados não tão positivos?

Os ciclos olímpicos têm esta característica, um objetivo final normalmente muito distante do presente, que apesar de sua grande capacidade motivadora também apresenta uma grande dificuldade de preparação e disciplina. Mas este fato não se limita as olimpíadas, ele se repete constantemente em todas as modalidades e todos os níveis. Em modalidades específicas como a natação, a ginástica artística e o nado sincronizado o atleta se dedica a meses de treinamento para desempenhar em pouco tempo tudo aquilo que treinou, algumas poucas vezes por ano. No caso dos esportes coletivos, embora jogem semanalmente, são necessários inúmeros jogos para que um campeonato se decida apenas no final do ano, em um jogo final ou na soma dos pontos.

Tudo isto nos leva a uma importante questão da psicologia do esporte. Como manter motivadas as equipes e os atletas quando o objetivo final está tão distante do presente? ou mais precisamente: Como fazer com que estes objetivos possam estar presentes e reforcem diariamente o comportamento dos atletas?

Esta questão é tratada quando falamos em estabelecimento de metas e objetivos. Todos nós fazemos os nossos planos, temos os nossos sonhos e trabalhamos em função deles, mas quando conseguimos nos organizar de uma forma mais sistemática e racional, de acordo com nossas metas, tanto o controle do processo como a confiança no resultado aumentam e conseguimos trazer o futuro diariamente para nos motivar.

O primeiro, e mais fundamental passo, é descobrir, REALMENTE, qual o nosso objetivo. O que nos motiva? até onde queremos chegar? por que queremos isso? Em princípio estas questões parecem fáceis de serem respondidas, é óbvio que se perguntarmos para uma criança em fase de iniciação ou aprendizado de uma modalidade esportiva qual o seu sonho ela responderá que é competir nos jogos olímpicos. Mas um objetivo é mais que um sonho, é algo pelo qual queremos trabalhar. E como o trabalho aumenta a medida que os nossos objetivos se tornam mais ambiciosos, devemos nos perguntar se realmente estamos dispostos a trabalhar o necessário em função daquele objetivo. Isto porque assumimos uma responsabilidade em relação a ele e a nós mesmos, sob pena de fracassarmos e comprometermos nossa confiaça e nossa disposição para buscarmos novas metas.
As metas portanto precisam estar adequadas às nossas capacidades aspirações. Devem se relacionar a quem nós somos e o quanto queremos alcançar isto. Inúmeros são os elementos externos que podem nos motivar. Reconhecimento, atenção, fama, dinheiro, diferenciação, são alguns exemplos destes motivadores chamados de extrínsecos. Mas estes muitas vezes são motivadores mais fracos, pois em uma instância fundamental o esporte é um desafio solitário. A vitória está aos olhos de todos, mas a dor é invisível. Acordar cedo todo dia, suar, sofrer, sentir dor, suportar os momentos difíceis, isolar-se do convívio social, são processos que o atleta tem de vivenciar sozinho. Portanto, os motivadores, para serem realmente fortes precisam vir de dentro, formados em um compromisso consigo mesmo, de querer vencer, se superar, evoluir, de realmente querer trabalhar em função desta evolução, destes desafios, pois é este caminho que fortalece o atleta.
Desta forma, antes de simplesmente determinar os objetivos pessoais de acordo com o que se quer no momento, o que está na moda, na mídia, o que os amigos ou o grupo acham interessante ou valorizam, os atletas devem encontrar as suas próprias metas. Eles devem encontrar seus motivos e propósitos, descobrir o que os motiva a este desafio, externamente e fundamentalmente internamente pois apenas desta forma cada degrau a ser vencido poderá lhes dar direção confiança e motivação para chegar até o topo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Características de um atleta mentalmente forte

Em um estudo publicado no International Journal of Sports Psychology, em 2007, os autores Jones, Hanton e Connaughton entrevistaram uma amostra de atletas campeões olímpicos e mundiais, alguns de seus técnicos e psicólogos com o seguinte questionamento:
Na sua opinião, quais são as características de um atleta mentalmente forte?
O que os autores estavam tentando definir era o termo Mental Toughness (força mental), que seria um diferencial competitivo destes atletas e que por serem supostamente mais fortes mentalmente, conseguiriam uma definição melhor do termo.
Analisando as respostas dos sujeitos os autores classificaram os resultados em 4 categorias. Atitude, Treinamento, Competição e Pós competição, estes estágios foram posteriormente divididos em 13 sub grupos. Os atletas mentalmente fortes teriam, portanto comportamentos específicos relacionados a cada um destes fatores e momentos.
A seguir, as características levantadas pelos atletas do Estudo:

1 - Atitude
1.1 - Confiança
1.1a - Têm uma confiança inabalável como resultado de uma consciência total de como chegou onde está.
1.1b - Têm uma arrogância interna que o faz acreditar que pode alcançar tudo o que se dispõe a buscar
1.1c - Acredita que pode vencer qualquer obstáculo que estiver em seu caminho
1.1d - Acredita que seu desejo e vontade irão resultar em atingir todo seu potencial

1.2 - Foco
1.2a - Recusa-se a ser seduzido por ganhos a curto prazo que possam ameaçar o alcance dos objetivos principais a longo prazo
1.2b - Têm a segurança de que alcançar suas metas esportivas é a prioridade número um em sua vida
1.2c - Reconhece a importância de saber quando se ligar e desligar do esporte
2 - Treinamento
2.1 - Usando metas de longo prazo como fonte de motivação
2.1a - Quando o treino fica duro, porque as coisas não estão indo bem, fica se lembrando das metas e aspirações e em porque está passando por isso.
2.1b - Têm a paciência, disciplina e auto-controle durante o treinamento necessário para o desenvolvimento de cada estágio que permita desenvolver todo o seu potencial

2.2 - Controlando o ambiente
2.2a - Permanece no controle e não sendo controlado
2.2b - Utiliza todos os aspectos de um ambiente muito difícil de treinamento a seu favor
2.3 - Levando-se ao limite
2.3a - Adora os momentos em que o treino realmente dói
2.3b - Aproveita as oportunidades de competir durante os treinos
3 - Competição
3.1 - Enfrentando pressão
3.1a - Adora a pressão da competição
3.1b - Se adapta e enfrenta qualquer mudança, distração e ameaça sob pressão
3.1c - Toma as decisões corretas e escolhe as opções certas que garantem ótimo desempenho sob condições de extrema pressão e dúvida
3.1d - Enfrenta e canaliza a ansiedade em situações de pressão

3.2 - Confiança
3.2a - Têm um compromisso total com a performance e o objetivo final até que se esgote a última possibilidade de sucesso.
3.2b - Não se abate com os erros e consegue se recuperar deles
3.3 - Controlando a performance
3.3a - Têm um “instinto assassino” para aproveitar o momento decisivo, quando sabe que pode vencer.
3.3b - Consegue aumentar seu nível de performance no momento em que mais importa.

3.4 - Mantendo-se focado
3.4a - Fica totalmente focado na tarefa em face às distrações
3.4b - Mantêm-se comprometido com um foco interno apesar das distrações externas
3.4c - Em certas provas, mantêm-se focado no processo e não apenas no resultado.
3.5 - Controlando pensamentos e emoções
3.5a - Mantêm-se conscientes de qualquer pensamento e sentimento inadequados e consegue modifica-los com a intenção de melhorar sua performance

3.6 - Controlando o ambiente
3.6a - Utiliza todos os aspectos de um ambiente competitivo muito difícil a seu favor
4 - Pós-competição
4.1 - Lidando com a derrota
4.1a - Reconhece racionalmente a derrota e identifica as possibilidades de aprendizado para seguir em frente
4.1b - Usa a derrota para se motivar para o futuro sucesso

4.2 - Lidando com a vitória
4.2a - Sabe quando comemorar e quando parar e focar no próximo desafio.
4.2b - Sabe como administrar o sucesso