Por que é tão difícil se manter motivado para treinar para uma prova muito distante?
Uma das maiores dificuldades psicológicas no treinamento esportivo é a capacidade em se manter motivado durante longos períodos de tempo. Isto ocorre, pois o objetivo final, que recompensará todo o esforço e dedicação do atleta, algumas vezes está muito distante. Já as prioridades e exigências do dia a dia estão sempre mudando.
A motivação está, portanto diretamente relacionada ao objetivo final. Quanto mais importante é este objetivo para o atleta e mais próxima a competição, maior é o poder de controle sobre seu comportamento.
Entretanto quando o objetivo está muito distante é comum o atleta dispersar o foco e trocar o desconforto dos treinos (principalmente os longos, em horários desconfortáveis e nos dias frios) por atividades que lhe tragam recompensas imediatas como sair, comer ou ficar dormindo em casa.
Se em um primeiro momento esta troca reforça e alivia o atleta de suas obrigações com o objetivo final, por outro lado pode desencadear um processo de ansiedade, trazendo um sentimento de culpa, que pode levar a excessos posteriores ou a falta de confiança em seu treinamento.
Para lidar com isto o atleta precisa então, constantemente reforçar seus objetivos, aproximando-os de sua realidade atual através das metas de curto e médio prazo, o que irá facilitar a troca das recompensas imediatas por uma muito maior de longo prazo.
Ansiedade pré-competitiva atrapalha minha prova?
Normalmente costumamos associar a ansiedade a um estado desagradável de desconforto, acompanhado de sintomas como taquicardia, mãos suadas ou frias e pensamentos de dúvida e insegurança. Por estes motivos muitas vezes atribuímos a ela as falhas e deficiências em nossa performance.
O que muitos não sabem é que a ansiedade não é necessariamente negativa e nem precisa ser interpretada como sinal de resultados ruins. Isto porque a ansiedade a princípio é uma reação instintiva do ser humano, positiva, e que mobiliza a mente e o corpo para os desafios que o sujeito precisa enfrentar.
Em um nível ideal ela ajuda o atleta a manter-se concentrado e motivado, mobiliza as reservas energéticas do corpo e ativa a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, fundamentais para o desempenho físico.
O problema ocorre quando a avaliação do sujeito sobre sua capacidade de enfrentar o desafio que está por vir é negativa. Surgem então as dúvidas e a insegurança. O atleta passa a se sentir incapaz, os sintomas desagradáveis aumentam, a concentração diminui e todas as dificuldades encontradas na prova são atribuídas a este estado.
Neste momento a ansiedade passa a trabalhar contra o atleta e o desempenho pode ser diretamente afetado.
Desta forma um controle não apenas somático, das reações da ansiedade, mas principalmente cognitivo, da avaliação das situações e causas da ansiedade, alivia os sintomas negativos e coloca toda a energia do atleta para trabalhar de forma produtiva para o desempenho.
De que forma a “parte psicológica” pode influenciar na performance?
Diversas vezes ouvimos falar sobre a importância da preparação psicológica de atletas, mas ainda parece difícil a compreensão dos mecanismos psicológicos que influenciam seu desempenho final.
A psicologia do esporte tem se dedicado a duas formas específicas de trabalho com os atletas, visando influenciar diretamente sua performance. A principal é através do desenvolvimento de habilidades mentais competitivas específicas.
Aspectos como atenção e concentração podem ser decisivos para modalidades onde a precisão e a velocidade de reação são mais determinantes. Uma boa capacidade em se manter motivado melhora a qualidade do treinamento para provas de preparação muito exigente. O controle da ansiedade e dos níveis de ativação do atleta permite uma regulação ótima destes estados, favorecendo o uso econômico da energia disponível e a utilização máxima das capacidades cognitivas do atleta durante sua prova.
Outro ponto bastante desenvolvido nos últimos tempos ainda atua mais diretamente sobre as capacidades físicas do atleta. È a chamada psicofisiologia, que desenvolve o controle e a interface entre as características psicológicas e fisiológicas do atleta. Através de técnicas específicas como a psicorregulação, o biofeedback e os treinamentos mentais, é possível atuar diretamente sobre aspectos como a economia no consumo de oxigênio, a recuperação do treinamento e o controle muscular específico de movimentos, entre outros.
Por fim, não podemos esquecer a importância biopsicosocial do esporte na vida dos atletas e a forma como lazer, competição, superação, estilo de vida e relações interpessoais interagem na constituição dos sujeitos, fazendo da boa relação com o esporte um meio de vida mais saudável e produtivo para todos.
Dr. Sidônio Serpa na USP
Há 14 anos
Nota 10 esse texto!!!!
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Os artigos estão muito bons.
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